domingo, 11 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Uma casa de negócios... (Jo 2,13-25)

   Este Evangelho da “purificação do Templo” tem notável atualidade. Ainda prolifera a mentalidade de que se pode negociar com as coisas de Deus e, pior, negociar com Deus.

     O Templo de Jerusalém era para Jesus um local de especial apreço, a ponto de chamá-lo “casa de meu Pai” (cf. Lc 2,49b). Foi no Templo que Maria reencontrou Jesus adolescente após três dias de sumiço. Era nas arcadas do Templo que Jesus costumava ensinar (cf. Jo 8,2).

     Eis que na véspera da celebração da Páscoa, quando dezenas de milhares de peregrinos afluíam a Jerusalém, Jesus encontra o pátio do Templo transformado em um misto de curral e de mercado [no grego de João, empóriou]. O balido das ovelhas, o mugir dos novilhos, o fétido cheiro do estrume, os pregões dos trocadores de moedas. Todos preocupados em faturar grandes lucros com a devoção popular... Não admira que Jesus fosse tomado de santa ira e improvisasse um chicote para expulsar os animais. Era, de fato, a gota d’água!

      Como todos sabem, os grandes santuários acabam envolvidos por um cinturão de comércio. Ali, tudo se vende: souvenirs, medalhas, santinhos, imagens, manuais de oração, pseudo-relíquias, novenas de poder infalível, orações de poder, até água benta ou “água de Lourdes”. Muitos responsáveis pelos santuários dizem que se trata de um parasitismo inevitável, mas em muitos lugares foram tomadas sérias providências que puseram as coisas no eixo. De qualquer modo, isto se transforma em ocasião de escândalo para muitos.

      Mas pode ser pior. É o caso da antiga e perversa mentalidade, segundo a qual podemos atrair a Deus com algum tipo de isca, sejam promessas, esmolas e doação de vitrais para a igreja, naturalmente com o nome do doador gravado bem à vista. Como se Deus não se comovesse com nossas misérias tão somente por ser nosso Pai!

      Ora, Deus não tem preço. Deus não faz negociatas. Deus não precisa de nosso dinheiro. Até o dízimo – que é, no fundo, um direito exclusivo do fiel para demonstrar sua pertença ao povo da Aliança com o Senhor, e proibido ao escravo e ao estrangeiro – acaba sendo encarado como uma “armadilha” para extrair de Deus “dez vezes mais”.

     O cúmulo dessa degeneração é a conhecida “teologia da retribuição” ou teologia da prosperidade”, cujo prócer foi Kenneth Hagin [+2003], autor do livro “O Toque de Midas”. Para quem não se lembra, o Rei Midas transformava em ouro tudo o que tocasse com as mãos. Sua visão afirma que, se formos fiéis a Deus, seremos retribuídos com a prosperidade material. Esta seria a prova definitiva de nossa fidelidade.

     Ora, seria outro o Cristo dos evangelhos, que viveu a pobreza e exortou ao desapego dos bens materiais? Não esqueçamos o imperativo de Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas!” (Mt 6,24b.)

     Orai sem cessar: “Felizes os que habitam em vossa casa!” (Sl 84[83],5)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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