segunda-feira, 12 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Profeta em sua pátria... (Lc 4,24-30)
            Todo orador deve aprender a técnica de atrair a benevolência de seus ouvintes. Trata-se de despertar empatia no auditório para ver bem acolhidas as suas palavras. Não é assim o profeta.
            Eis o comentário do admirável teólogo Hans Urs von Balthasar:
            “No Evangelho, Jesus adota a atitude do profeta: ele começa por provocar seus ouvintes. E lhes diz ser ele mesmo o cumprimento de toda profecia. A toda adulação a respeito de sua mensagem de graça, ele opõe prontamente a declaração de que sua linguagem profética não é recebida ‘em sua pátria’.
            É que as pessoas diziam: ‘Não é o filho de José?’ Ou seja: ‘Que novidade ele nos pode dizer?’ A seguir, Jesus fornece as provas: o profeta Elias só pôde fazer seu milagre em terras pagãs; seu sucessor, Eliseu, só pôde realizar o seu em favor de um estrangeiro.
            Esta maneira de Jesus provocar seus parentes e conterrâneos não nos parece como imprudente? Não teria agido melhor dizendo-lhes primeiro as coisas que eles podiam suportar e aceitar, para passar pouco a pouco às coisas mais difíceis? Não é culpa de Jesus se ele ‘espumaram de raiva’ e o expulsaram da cidade para fazê-lo morrer?
            Mais tarde, também a pregação cristã imitará a técnica de Jesus. Em seu discurso no Templo, Pedro dirá aos judeus: ‘Vocês renegaram o Santo e o Justo e reclamaram o perdão para um homicida; vocês mataram o autor da vida!’
            A prudência diplomática chega muito rápido ao ponto onde, no entanto, somente o salto na verdade pode ajudar. Paulo até pode citar os poetas pagãos para os sábios de Atenas, no entanto deve falar, em seguida, da ressurreição dos mortos e do Juízo. Nenhum tipo de ‘inculturação’ permite dissimular estas verdades.”
            O leitor atento já terá notado que nossas homilias e pregações, em geral, evitam educadamente tratar de temas polêmicos como o uso de contraceptivos, as relações sexuais fora do casamento, a masturbação, a infidelidade dos esposos, a avareza, a ânsia de acumular dinheiro e subir de padrão econômico, só para exemplificar. Isto é, os pregadores dão ênfase aos pecados estruturais, pecados sociais, quando o que tem afastado os fiéis de seu Senhor são pecados pessoais, ligados ao sexo e ao dinheiro. Por causa deles é que acontecem os abortos. Por causa deles os casais já não querem filhos.
            Repassem os livros proféticos: verão os profetas perseguidos, espancados, lançados na cisterna, convidados a ‘cantar em outra freguesia’ (cf. Am 7,12; Jr 18,18; 20,2; 38,6).
            Aqui e ali, pedem aos pregadores: ‘Diga para nós uma palavra bonita...’ Quando pedirão uma palavra verdadeira?
Orai sem cessar: “Por amor a Sião, eu não me calarei!” (Is 62,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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