segunda-feira, 19 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Prometida em casamento... (Mt 1,16.18-21.24a)
            Sim, quando o anjo Gabriel levou a Maria a proposta de ser Mãe do Salvador, e ela prontamente aderiu ao desígnio do Senhor, a jovem era noiva de José. O original da TOB diz, em francês, “accordée en mariage”, prometida em casamento. A Bíblia de Chouraqui é mais direta: “fiancée”. Isto é, uma noiva.
Mas ninguém pense que isto “alivia a barra” de Maria. Naquela sociedade dos judeus, noivado era coisa séria. O compromisso era celebrado, em geral, um ano antes do casamento, mas já possuía juridicamente o valor de matrimônio, ainda que nesse período os noivos permanecessem morando em suas próprias casas. O noivado era um compromisso tão sério que, em caso de morte do noivo, a noiva passava a agir como viúva, vestida de luto e convivendo com as outras viúvas.
            Por isso mesmo, ao aparecer grávida, Maria estaria sujeita à pena de lapidação (apedrejamento) estabelecida pela Lei mosaica (cf. Dt 22,20-24; a leitura atenta mostra que também o homem envolvido merecia o mesmo castigo!). Ao perceber que Maria está grávida, terá passado pela mente de José esse estatuto legal, vendo-se dividido entre a evidência da gravidez e sua convicção da pureza e santidade de sua noiva, além de assaltado por profunda dúvida, como mostram os ícones da Natividade. Assim, ao invés de denunciá-la publicamente, como previsto na Lei, pensava em afastar-se em segredo, sendo demovido da intenção pela providencial visita do Anjo durante o sono.
            Duas pessoas admiráveis! De um lado, Maria se mantinha em silêncio, não vendo como revelar o “segredo de Deus”, a concepção virginal do Messias prometido. De outro, José, premiado pela Escritura com o título de “justo” (ou seja, alguém que manifestava a justiça, i.é, a santidade de Deus!), abre mão de seu direito, mesmo sem entender a situação. E estão os dois bem no miolo do projeto divino de salvar a humanidade.
O Menino que ia nascer era homem, pois nasceria de Mulher. Mas, ao mesmo tempo, era Deus, pois nascia sem a contribuição de um pai humano. O Anjo o deixa claro desde a “Anunciação a José”: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo.” (Mt 1,20.)
            E ao chamar José de “filho de Davi”, o anjo de Deus situava a Criança que devia nascer no exato contexto das promessas feitas pelo Senhor a Davi: “Suscitarei depois de ti a minha posteridade, aquele que sair de tuas entranhas, e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo... Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho.” (2Sm 7,12-14.) Exatamente a leitura desta Liturgia da solenidade de São José.

Orai sem cessar: “Em vós, Senhor, eu ponho a minha confiança!” (Sl 56 [55],4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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