terça-feira, 20 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Não tenho ninguém... (Jo 5,1-16)
            Eis um cenário dantesco. Uma piscina cercada de todas as misérias humanas: doentes, cegos, coxos, entrevados. Uma síntese da miséria humana. Todos à espera de uma agitação nas águas, sinal de que o Anjo de Deus ali chegara. O primeiro a entrar na piscina obtinha a cura. E isto só ocorria “de tempos em tempos”. Como se vê, o clima típico da Antiga Aliança: a graça rara, parcamente distribuída...
            Um dos enfermos sofria de seu mal há 38 anos. Os especialistas no judaísmo veem nessa cota – 38 – o símbolo da imperfeição, da coisa incompleta, em oposição ao número 40, medida de uma experiência completa, com início, meio e fim. Tal como os 40 dias do dilúvio, os 40 anos de caminhada pelo deserto, os 40 dias que Jesus jejuou no deserto.
Pois ali comparece Jesus para levar o imperfeito à perfeição, curando o enfermo e completando a sua cota. Mas não antes de acontecer o pungente diálogo entre o Rabi da Galileia e o homem abandonado a seu mal. Diante da pergunta de Jesus - “Queres ficar são?” -, o pobre responde com sua miséria: “Não tenho ninguém que me lance na piscina, quando a água se agitar; e enquanto vou, um outro desce antes de mim”.
            A frase desse homem abandonado pode ser posta, hoje, na boca de milhões de habitantes de nosso mundo. São milhões de pessoas a quem é negada a oportunidade do primeiro lugar. Gente que se apresenta sempre que o banquete já acabou. Assim, nem as migalhas sobram para eles...
            Mas nem todos ficam surdos a esse clamor! Aqui e ali, alguém ouve o grito – “Não tenho ninguém!” – e sente seu coração rasgar-se, dispondo-se a amar aqueles que ninguém ama. E não falo apenas de Teresa de Calcutá com seus mendigos, nem de Damião de Molokai com seus leprosos. Não penso apenas em Dom Orione com seus moleques de rua, nem no Dr. Schweitzer com seus nativos congoleses.
            Penso nessa multidão anônima de cristãos e não-cristãos que, tocados pela Graça divina, decidiram amorosamente orientar a sua vida para aqueles que não têm ninguém em sua defesa. São os alegres jovens das comunidades novas a evangelizar os moradores de rua... São as mocinhas de família rica que abrem mão de ter uma família própria para cuidar das crianças do orfanato... São os leigos que invadem o inferno humano das penitenciárias para ali plantar uma sementinha do Evangelho... São os médicos que socorreram as vítimas do vírus Ebola e... morreram com eles...
            Nem todos são surdos. Nem todos são cegos. Ainda há muita gente que tem coração...
            Será o nosso caso?

Orai sem cessar: “Eis-me aqui!” (Gn 22,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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