domingo, 25 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Queremos ver Jesus! (Jo 12,20-33)
            Durante toda a Primeira Aliança, o povo hebreu se relacionava com Deus exclusivamente pela audição: “Shemá, escuta, Israel!” Somente a Voz expressava  divina Presença. Oculto na nuvem densa, transcendente e inatingível, o Deus Altíssimo não podia ser visto pelos olhos humanos, apesar do insistente clamor do salmista: “Mostrai-nos serena vossa Face e seremos salvos!” (Sl 80 [79],4.) E interrogava: “Por que ocultais a vossa Face?” (Sl 44 [43],25.)
            Agora, já em tempos de Nova Aliança, o Filho de Deus nasceu de mulher, assumindo uma natureza igual à dos filhos de Adão. Os luminosos ícones da Natividade mostram o recém-nascido envolto em faixas, como qualquer bebê dos humanos. As diligentes parteiras dão-lhe o primeiro banho. Ele será alimentado com o leite da Mãe, a Galaktotrophousa dos orientais. Ao longo de sua vida, terá sede e fome, angústias e cansaço. Agora, Deus pode sofrer, suar e sangrar...
            É por isso que o desejo desses estrangeiros (cf. Jo 12,20) pode, afinal, ser atendido: eles podem ver Jesus. E como é importante esse verbo nos textos joaninos! “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória...” (Jo 1,14.) Aos dois futuros discípulos que lhe perguntam “onde moras?”, Jesus responde: “Vinde e vede!” (Jo 1,39.) Aos samaritanos de Sicar, a samaritana emocionada convida: “Vinde e vede um homem que me contou tudo o que tenho feito. Não seria ele porventura o Cristo?” (Jo 4,29.) E na sua primeira Carta, o próprio evangelista atesta: “... o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida...” (1Jo 1,1.)
            Deus tem um corpo, um semblante, o rosto que Maria beijou. Seus pés marcaram a poeira da Palestina. Suas mãos abençoaram as crianças. Assim cai por terra a antiga proibição das figuras humanas e da representação divina (cf. Ex 20,4-5), pois a Face de Cristo foi vista entre os homens, gravada na toalha do Rei Abgar de Edessa, gravada indelevelmente no Santo Sudário.
Confirma-o São João Damasceno: “Antigamente Deus, que não tinha nem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado por uma imagem. Mas agora, que se mostrou na carne e viveu com os homens, posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. [...] Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor”. (Catecismo da Igreja Católica, 1159.)
            Uma das bem-aventuranças acena com um prêmio excelente: “Eles verão a Deus!” (Mt 5,8.) Nós nos antecipamos a essa recompensa, pois em cada Eucaristia, na hóstia consagrada, nós também vemos a Deus sob as espécies sacramentais. Mais um motivo para nossa ação de graças...
Orai sem cessar: “Bem-aventurados os vossos olhos, porque veem!” (Mt 13,16a)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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