domingo, 1 de abril de 2012

PALAVRA DE VIDA

Procuravam matá-lo... (Mc 14,1 - 15,47)

            É uma pena que a tensão do Domingo da Paixão tenha sido transformada no espetáculo do Domingo de Ramos. Parece um processo de “distração” para desviar os olhos do essencial para o episódico. Enquanto a multidão agita suas ramagens ao Senhor da Vida, os poderosos tramam sua morte. Como disfarçar de festa o drama da salvação?

            Que absurdo cenário! Por trás das muralhas do Templo, edifício erguido para a glória de Adonai, os sacerdotes articulam a morte de seu Filho. No coração da Cidade da Paz, os corações urdem a guerra. Na escuridão da noite, os filhos das trevas querem apagar a Luz que veio ao mundo...
            Que loucas personagens! Os sumos sacerdotes ávidos de poder, um rei sedento de sangue, um governador transido de medo, um apóstolo corroído pelo ouro, discípulos embotados que não aprenderam sua lição, a multidão cega que aclama o assassino...
            A trama? É a vida. A vida de Deus que se deixa colher pela foice dos homens. A vida dos homens que será salva pelo Sangue. A vida do Filho de Deus a ser injetada nas artérias da Humanidade...

            Diferentemente das tragédias clássicas, aqui o Destino não tem lugar. Antes, é a livre vontade do homem que escolhe seu caminho. Já no Getsêmani, o Cordeiro mudo aceitara sua vocação: “Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua!” E entram em jogo as outras vontades, liberdades desviadas do bem sob as rédeas do poder, da própria segurança, do interesse mesquinho, do ódio visceral.

            Quantas personagens desse drama poderiam ter alterado o rumo da História! Caifás, Herodes, Pilatos, Judas Iscariotes, a própria multidão... Quantos arbítrios assinaram a sentença de morte! Quantas omissões aplaudiram em silêncio!
            Hoje, o drama continua. A peça não saiu de cena. O Sangue não parou de correr. As liberdades individuais ainda são chamadas a escolher entre a Vida e a morte. Ainda há quem se venda por trinta moedas, quem negue seu Mestre, quem veja em Cristo uma ameaça à sua própria posição.
            Aos pés da cruz, Maria permanece fiel. Abraçada a João, ela é símbolo da Igreja fiel, que não teme navegar na contramão do mundo pagão, mas defende a vida em todas as suas manifestações. Porque o Calvário continua. O Calvário é aqui...
Orai sem cessar: “Ninguém me consolou...” (Lm 1,21)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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