Que cena! Em pleno jantar [reunião judaica da qual só participavam os homens], a irmã de Lázaro, ao qual Jesus acabara de ressuscitar no capítulo 11 do mesmo Evangelho, invade literalmente o espaço do convívio para realizar um ato simbólico. Maria traz um frasco de nardo puro, isto é, sem estar diluído em outro óleo, para com ele ungir os pés do Mestre. De quebra, ainda os enxuga com seus próprios cabelos.
Que cena! Que reações subterrâneas terá provocado nos convidados! A presença feminina imprópria, segundo os padrões da época. A ousadia de soltar os cabelos em público [a mulher judaica os trazia presos e cobertos por um véu; só diante do esposo, no recesso da alcova nupcial, é que ela soltava os cabelos!]. E – o que mais incomodou a Judas Iscariotes – o desperdício de dinheiro... Segundo a opinião de um entendido em finanças (o próprio Judas), aquele aroma valeria no mínimo 300 denários, isto é, o salário de um operário que trabalhasse 300 dias! Afinal, o nardo era substância rara, importada da Ásia...
O texto original grego traz a expressão nárdon pistikes [νάρδον πιστικης], onde o segundo termo se associa à palavra “fé” [em grego, πίστις]. O humilde gesto de adoração feito por Maria de Betânia sinalizava a sua fé na natureza divina do Senhor. Uma fé que se irradiava em torno, tal qual a fragrância do perfume. Algo que nos recorda o óleo do crisma, também ele perfumado, para indicar que, ao receber a confirmação de seu batismo, o fiel assume o compromisso de testemunhar!
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