quarta-feira, 4 de abril de 2012

PALAVRA DE VIDA

Trinta moedas... (Mt 26, 14-25)
            Trinta moedas de prata não eram uma quantia desprezível. Por este preço, na Palestina, adquiria-se um escravo. Alguém poderia estranhar que o Filho de Deus custasse o preço de um escravo. Ora, a cruz era proibida a um cidadão romano, mas cabia muito bem a um escravo fugido ou revoltoso. E foi na cruz que Jesus se entregou a nós. Paulo apóstolo, cidadão do Império, foi decapitado porque o Direito Romano não permitia que fosse crucificado, assim como seriam Pedro e André.
            Quem estranhou não terá entendido a passagem clássica de Fl 2, 6ss: “Sendo ele [Jesus Cristo] de condição divina (...), despojou-se, tomando a condição de servo [= escravo]... ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte, e morte numa cruz.” Ao abrir mão, livremente, de sua vontade própria – “Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua” (cf. Lc 22, 42) -, Jesus Cristo se aniquila como os escravos se aniquilavam diante de seus donos. Trata-se de um abandono total, sem reservas, movido pelo amor sem limites, a filantropia de Deus por seu povo, que os Padres gregos chamavam de manikos éros, o louco amor de Deus. Enfim, Zacarias previra o preço do Messias: “Pagaram, de fato, o meu salário: trinta siclos de prata. O Senhor me disse: ‘Lança-o ao fundidor, esse belo preço em que fui avaliado por eles.’” (Zc 11, 12)
            Talvez ajude meditar nas palavras de meu soneto “O Amor imprudente”:
Não peçamos cuidados a quem ama...
Não se espere prudência dos amados...
Na insanidade dos apaixonados.
Arriscam alma, vida, ouro e fama...
            Quem tem amores já não teme a lama
Nem os seus braços ver crucificados:

Escandaloso, o amor solta mil brados

E uma resposta ao seu amor reclama!
Não é amor, decerto, se é prudente.
Não é amor se não for chaga ardente:
Uma noite de trevas e de luz...
            E o insensato maior que já foi visto
É, com certeza, o próprio Jesus Cristo
Que, apaixonado, se abraçou à Cruz!
Orai sem cessar: “São os nossos sofrimentos que Ele carregou.” (Is 53, 4)
Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.

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