domingo, 22 de abril de 2012

PALAVRA DE VIDA

 Minhas mãos e meus pés... (Lc 24, 35-48)
            Como foi difícil para os discípulos aceitar a realidade da ressurreição de seu Mestre! Ainda hoje, temos dificuldade em compreender que a morte não tem mais a última palavra em nossa vida...
            É por isso que Jesus ressuscitado precisa “identificar-se” diante dos apóstolos: “Sou eu mesmo! Vejam minhas mãos e meus pés!” Jesus não apresenta seu CPF nem sua Carteira de Identidade. Ele mostra as mãos e os pés...
            Que notável processo de identificação! Eu sou minhas mãos. Eu sou os meus pés. Eu sou aquilo que fiz: sou meus atos, meus gestos, meu trabalho. Eu sou a estrada por onde andei, os trilhos que escolhi entre tantos atalhos deste mundo.
            Mas as mãos e os pés do Ressuscitado ainda estavam ornadas com as marcas da Paixão: eram mãos e pés perfurados pelos cravos do Calvário. É como se Jesus dissesse: “Eu sou aquilo que sofri...”
            Não seria esta uma excelente “identificação” para cada um de nós? Sofremos para nascer, sofremos para crescer, sofremos para morrer. E essa aura de sofrimento nos torna pessoas “apaixonadas”, mergulhadas na Paixão de Cristo. Eu sou aquilo que sofri.
            Viktor Frankl, o admirável neurologista vienense, propôs que o homem já não fosse visto como “homo sapiens” (= o que sabe), mas como “homo patiens” (= o que sofre). É ali, diante de sua cruz – pessoal e intransferível -, que a pessoa humana revela toda a sua grandeza.
            Depois da Paixão de Cristo, o sofrimento humano já não pode ser visto como simples desgraça ou acidente. Como observa François Trévedy, “é um homem perfurado que se apresenta aos discípulos; e se existe um céu, é pelas perfurações desse homem que o céu é visível e respirável. Homem estranho pelas incompletudes irreparáveis de sua carne, estranho Deus, em quem até as ausências são reveladoras, e os vazios, e as lacunas! Certeza desse Deus, garantida por suas faltas e por esse possível lugar que Ele nos reserva em Si mesmo”.
            Jesus não se limita a abrir as portas do céu, após rasgar o véu do Templo de Jerusalém. Ele rasga seu próprio Templo, seu Corpo crucificado. E sem esta Porta, ninguém acha o caminho do céu...

Orai sem cessar: “E a mão do Senhor estava com eles...” (At 11, 21)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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