O Sangue da Aliança... (Mc 14,12-16.22-26)
Quando se aproximava um exército poderoso, o perigo
iminente levava as tribos nômades do deserto a se aliarem, em uma atitude de
defesa. Os dois chefes partiam um cavalo em duas metades e passavam entre as
partes sangrentas, como a dizer: “Se eu não cumprir minha parte na aliança,
podes fazer comigo o que fizemos com este animal.”
No Gênesis, um ritual semelhante é celebrado entre Deus a
Abraão, selando a aliança entre Deus e seu povo (cf. Gn 15,9-17). Em outras
celebrações arcaicas, o sangue de um animal era aspergido sobre a assembleia
reunida, como rito de purificação; a melhor carne era queimada em sacrifício e
o restante era distribuído ao povo que, assim, entrava em comunhão com a
divindade.
As duas partes envolvidas no ritual tornavam-se “aliados
de sangue”. Era como se formassem um só povo, pois passavam a ser mutuamente
comprometidas com todas as dificuldades e desafios que afetassem uma das
partes.
No Evangelho de hoje, no meio de uma celebração que, a
princípio, parecia apenas uma ceia pascal judaica, Jesus surpreende os
discípulos ao “quebrar o cerimonial” e dizer as palavras da primeira
consagração eucarística da história: “Isto é meu Corpo... Este é o cálice do
meu Sangue...” Um Corpo “dado”, um Sangue “derramado”...
Na verdade, só no dia seguinte – a Sexta-feira Santa –
Jesus seria sacrificado no Calvário, como vítima de salvação. No entanto, já na
véspera, na quinta-feira, Ele antecipa de modo sacramental (isto é, por meio
dos sinais do pão e do vinho) aquilo que seria evento histórico no dia
seguinte.
E as palavras do Senhor deixam claro que ele tem
consciência de estar dando formato definitivo à Aliança entre Deus e os homens,
tantas vezes tentada no passado: Com Noé (Gn 9,8ss), com Abraão (Gn 17), com
Davi (2Sm 7,11c-16). Desta vez, não há vítimas animais, mas o sangue que deve
correr é o próprio Sangue do Cordeiro.
Em cada Eucaristia, a Igreja atualiza (isto é, traz do
passado para o presente, de modo real e eficaz) aquele mesmo sacrifício de
Jesus, repetindo seus gestos e palavras. E o fiel sabe que está, mais uma vez,
presente à montanha do Calvário...
Orai sem cessar: “Ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder!” (Ap 5,13)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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