Três contra dois... (Lc
12,49-53)
Quem será
que assim divide uma família, a ponto de três de seus membros viverem em
oposição a outros dois? Por incrível que pareça, é Jesus Cristo a causa dessa
divisão... De fato, não é possível ficar neutro diante de Jesus e de seu
Evangelho. Uns o aceitam, outros o recusam. É assim que acabam em campos
opostos: os amorosos e os odiosos, os desapegados e os avarentos, oprimidos e
opressores, presas e predadores...
Eis o comentário do teólogo suíço
Urs von Balthasar: “O fogo que Jesus veio lançar sobre a terra é o fogo do amor
divino que deve apossar-se dos homens. É a partir da cruz, esse temido
‘batismo’, que ele começa a arder. Mas não são todos, longe disso, que se
deixarão dominar pela exigência absoluta deste fogo, de modo que esse amor que
quereria – e poderia – conduzir os homens à unidade, divide-os por causa de sua
resistência. De modo mais nítido e mais inexorável que antes de Cristo, a
humanidade se dividirá em dois reinos ou agrupamentos de Estados, que Agostinho
chama de ‘Cidade de Deus’, dominada pelo amor, e a ‘Cidade deste mundo’,
dominada pela cobiça.”
Tal divisão chega a rachar as
famílias, a romper os laços mais estreitos, posicionando em campos antagônicos
os que vivem segundo a ‘carne’ e os que vivem segundo o Espírito. Claro que
isto não constitui uma trágica fatalidade, algo inevitável, mas é uma espécie
de combate onde cada pessoa faz uma opção livre entre o bem e o mal, entre um
mundo aberto ao amor e um espaço fechado pelo ódio.
Nossa vida é uma experiência
agônica, na linha divisória desses dois campos. Cada vez que fazemos o bem e
repelimos o mal, permitimos que cresça o território da “Cidade de Deus”. Cada
vez que preferimos a nós mesmos e pecamos, permitimos que o campo do mal seja
expandido. Mesmo em nosso interior, é possível perceber o mesmo antagonismo,
quando tendências opostas se digladiam sem cessar. O Apóstolo Paulo se lamenta:
“Não entendo, absolutamente, o que faço: pois não faço o que quero; faço o que
aborreço. [...] Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem,
porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o
bem que quereria, mas o mal que não quero.” (Rm 7,15.18-19.)
E aquele
garotinho, aconselhado a repartir com os irmãos, reclamava: “Mamãe, como é ruim
ser bom!”
Orai sem
cessar: “Ajudai-nos com vossa mão, ouvi-nos!”
(Sl 108,7)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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