Chamai-o! (Mc 10,46-52)
Era um cego
anônimo: sequer tinha um nome. Era apenas “Bartimeu”. Bar Timeu, isto é, o “filho
do Timeu”.
Era um marginal: vivia à margem das
estradas, em lugares desertos ou na porta das cidades. O estigma da cegueira o
isolava da sociedade.
Era um mendigo: dependia da esmola e
da compaixão alheia. Para o sistema, um improdutivo.
Ora, diante de seus gritos
insistentes e das repreensões dos circunstantes, ouve-se o imperativo de Jesus:
“Chamai-o!”
Chamar pela pessoa. Chamá-la para o
centro das atenções. Chamá-la para o encontro com Cristo. Chamá-la para receber
o dom tantas vezes negado...
Eis aqui a missão da Igreja: imitando
o Mestre, chamar o homem e orientá-lo para o encontro com o Salvador. Não é
outra coisa o que escreve Bento XVI na Carta apostólica “Porta Fidei”:
“A Igreja no seu conjunto, e os
Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora
do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele
que dá a vida, a vida em plenitude.” (PF, 2.)
Já nos acostumamos a repetir
indefinidamente a velha ladainha: o mundo vai mal; a juventude está perdida; a
violência está fora de controle; os governantes são corruptos; o fim do mundo
deve estar perto. Ao mesmo tempo, porém, deixamos de anunciar ao mundo que
existe uma saída: ir à Fonte da Vida, que é Jesus. E seremos responsabilizados
por esta omissão...
Ainda é o Papa quem recorda: “Não
podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida. Também o
homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana
ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte,
donde jorra água viva”. (PF, 3.)
Infelizmente, esta omissão se
manifesta também em nossos movimentos e paróquias, onde são raros os círculos
bíblicos e os grupos de partilha reunidos em torno da Palavra de Deus, esta
ponte que facilitaria o desejado Encontro. Chega-se ao cúmulo de substituir,
mesmo na Liturgia da Palavra, o texto bíblico por outra mensagem de conteúdo
poético hidroaçucarado...
Bartimeu recuperou a vista no
encontro com Jesus. E nós? Será que estamos cegos?
Orai sem
cessar: “Tenho os olhos fixos no Senhor!”
(Sl 25,15)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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