Corta-a! (Lc
13,1-9)
Cortar uma
árvore é uma atitude radical. O dono da vinha parece violento. Parece que se
cansou da esperança. Como conciliar esta parábola com a noção de um Deus
misericordioso ao infinito?
Joachim Jeremias, exegeta alemão,
nos ajuda a compreendê-la em seu contexto original. Começa por lembrar que a
figueira faz sombra sobre a parreira, impedindo que as uvas amadureçam. Logo, o
dono da vinha devia gostar muito de figos, do contrário não teria plantado a
figueira.
Além disso, já esperava por frutos
há muito tempo. Segundo a lei do Levítico (19,23ss), os frutos produzidos pela árvore
nova nas três primeiras colheitas eram considerados “incircuncisos” ou
impróprios para a alimentação. No quarto ano, os frutos colhidos eram
oferecidos a Deus como primícias do pomar, em um gesto cultual: “Deus
primeiro!” Só a partir do quinto ano é que o produto das frutíferas podia ser
colhido como alimento humano.
Ora, já havia três anos que o dono
da terra procurava por figos e não os achava. Façamos a soma: 3 + 1 + 3 = 7!!!
São sete anos de esterilidade! Sete anos de decepção. E no mundo bíblico o
número 7 significa a plenitude, a totalidade, isto é, todo o tempo...
Agora, fica mais fácil entender a
mensagem desta parábola: TODO O TEMPO, Deus espera por nós e pelos frutos do
Espírito em nossa vida. Mas esse tempo há de acabar, é limitado, tem um fim.
Chegado o fim, não haverá outro recurso a não ser cortar a figueira...
Assim sendo, não podemos acusar a
Deus – representado na figura do dono da vinha – de impaciente ou sem
misericórdia. Ao contrário, nada mais justo que esperar pelos frutos de seu
“investimento” em nossa vida. Em Isaías 5, o profeta nos dá o “canto de amor” a
respeito da vinha (Israel), que se recusara a dar frutos: depois de cavar a
terra, limpá-la das pedras e plantar cepas escolhidas, o “dono” ainda a cercou,
ergueu uma torre e construiu um lagar, pois esperava fabricar o seu vinho. No
tempo da colheita, a uva não prestava, só dava vinagre. Que fazer?
Sua cerca será arrancada e os
javalis a pisarão. Ali crescerão apenas cardos e espinhos. Nem mesmo a chuva há
de regá-la... A vinha predileta não correspondera ao amor...
E nós? Estamos correspondendo ao
Amor que foi investido em nós?
Orai sem
cessar: “Graças a mim é que produzes fruto...” (Os 14,8b)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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