Devo seguir o meu caminho... (Lc 13,31-35)
É admirável em Jesus de Nazaré a
consciência que ele tem de sua missão! Depois de longos anos de vida oculta em
Nazaré, misturado aos mais pobres, chega o momento de assumir aquela missão que
motivara sua “descida” e encarnação...
Gosto
de imaginar o momento de sua despedida. O Filho se dirige à Maria: “Mãe, não
posso mais esperar... O Vento, que sopra onde quer, me arrasta para o deserto.
E logo me impelirá para as multidões. Na montanha ou na planície, o Espírito me
chama. Adeus!” E ela, serena, empurrando-o de leve: “Vai, meu Filho. Chegou a
sua hora!”
Não
passará muito tempo sem que se erga a oposição demoníaca, desde os homens do
Templo (esses hipócritas!) até Herodes (essa raposa!). Armadilhas, provocações,
traições, coisa alguma poderá deter a caminhada do Caminho... Sim, Jesus é o
homem-caminho. Só por ele vamos ao Pai. Só por Ele o amor do Pai se revelou
plenamente a nós. Contemplando sua vida, caem por terra todas as nossas desculpas
para estacionar.
A
mãe viúva. Arrimo de família. Pobreza. Dominação romana. Corrupção das
lideranças religiosas. Incompetência de seus discípulos. Nada o detém. Ao
contrário, ele anseia pela chegada de sua “hora”, a hora da Paixão: “Chegou a
hora de ser glorificado o Filho do homem. [...] E que hei de dizer? Pai,
salva-me desta hora? Mas por causa disto é que eu cheguei a esta hora!” (Jo 12,
23.27.)
Ao
afirmar que deve seguir o seu caminho, Jesus acrescenta: “...porque não se
admite que um profeta morra fora de Jerusalém”. Ironia à parte, fica bem claro
que ele não ignora o desfecho de sua caminhada: o alvo é a Cruz. Ele conhece a
história de Israel e sabe como terminava a estrada daqueles homens que Deus
enviara a seu povo. Não sonha, pois, com algo mais fácil para si mesmo.
Por
certo, em sua humanidade, Jesus experimenta tudo o que é próprio de nossa
natureza: apreensões, dúvidas e temores. Mas, ao mesmo tempo, ele sabe muito
bem qual é a vontade do Pai: que todos se salvem. Por isso mesmo, não se deixa
intimidar com as ameaças: “Devo seguir o meu caminho!”
E
nós? Estamos a caminho? Ou nos sentamos à beira da estrada, paralisados diante
dos obstáculos?
Orai sem cessar: “Correrei pelos caminhos de vossos
mandamentos.”(Sl
119,32)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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