Na
Comemoração dos Fiéis Defuntos - aqueles que chegaram ao fim, os “finados” -, a
Igreja nos convida a meditar um Evangelho que fala de “permanência”. Enquanto o
mundo vê a morte como um “desaparecimento”, a Liturgia mostra que nossa
permanência em Cristo não pode ser interrompida pela morte.
Este olhar diferente conflita
radicalmente com a visão do mundo sobre a morte, impropriamente considerada
como o fim de tudo. Um dos prefácios possíveis para a celebração eucarística
deste dia afirma que a vida dos que morrem em Cristo não é tirada, mas
transformada: “vita mutatur, non tollitur”...
O que explica tal contraste?
A resposta se evidencia nestas
palavras de Jesus: “Quem se alimenta com a minha carne [...] tem a vida eterna,
e eu o ressuscitarei no último dia”. (Jo 6,54.) No mesmo capítulo de João, Jesus
repete insistentemente a mesma promessa: a ressurreição após morte. Como
remédio para nossa condição mortal, ele aponta para um alimento que o próprio Senhor
define como “pão de vida” (Jo 6,35).
Se os seres vivos não recebem
alimento, acabam morrendo de inanição. Esta verdade biológica vale também para
a vida espiritual. Por isso mesmo, com uma proposta jamais imaginada em
qualquer das antigas religiões, Jesus Cristo se apresenta como o alimento capaz
de nos libertar das injunções da morte. Antes de passar por ela, o Pão
eucarístico já vem injetar nos fiéis a semente de vida eterna. Após a passagem,
a mesma seiva vital mantém nossa simbiose com Cristo.
Não sem razão, São Cirilo de
Jerusalém usa de expressões muito fortes para definir a transformação vital
operada naquele que se alimenta do Corpo e do Sangue de Jesus: tornamo-nos
concorpóreos [sýssomos] e
consanguíneos [sýnaimos] com ele. E
se nele permanecemos, a morte não tem nenhum poder sobre nós. Pela comunhão
eucarística, corre em nossas veias a seiva vital do Espírito Santo. Ramos
enxertados na Videira, em plena circulação da vida divina, jamais murcharemos.
Não contente de nos criar e salvar,
Deus nos dá seu próprio Filho como alimento de eternidade... Por isso mesmo, é
em Cristo que nos re-uniremos todos além das barreiras da morte...
Orai sem cessar: “E os saciou com pão do céu...” (Sl 105,40)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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