sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PALAVRA DE VIDA

Permanece em mim... (Jo 6,51-58)

        Na Comemoração dos Fiéis Defuntos - aqueles que chegaram ao fim, os “finados” -, a Igreja nos convida a meditar um Evangelho que fala de “permanência”. Enquanto o mundo vê a morte como um “desaparecimento”, a Liturgia mostra que nossa permanência em Cristo não pode ser interrompida pela morte.

            Este olhar diferente conflita radicalmente com a visão do mundo sobre a morte, impropriamente considerada como o fim de tudo. Um dos prefácios possíveis para a celebração eucarística deste dia afirma que a vida dos que morrem em Cristo não é tirada, mas transformada: “vita mutatur, non tollitur”... O que explica tal contraste?
            A resposta se evidencia nestas palavras de Jesus: “Quem se alimenta com a minha carne [...] tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. (Jo 6,54.) No mesmo capítulo de João, Jesus repete insistentemente a mesma promessa: a ressurreição após morte. Como remédio para nossa condição mortal, ele aponta para um alimento que o próprio Senhor define como “pão de vida” (Jo 6,35).
            Se os seres vivos não recebem alimento, acabam morrendo de inanição. Esta verdade biológica vale também para a vida espiritual. Por isso mesmo, com uma proposta jamais imaginada em qualquer das antigas religiões, Jesus Cristo se apresenta como o alimento capaz de nos libertar das injunções da morte. Antes de passar por ela, o Pão eucarístico já vem injetar nos fiéis a semente de vida eterna. Após a passagem, a mesma seiva vital mantém nossa simbiose com Cristo.
            Não sem razão, São Cirilo de Jerusalém usa de expressões muito fortes para definir a transformação vital operada naquele que se alimenta do Corpo e do Sangue de Jesus: tornamo-nos concorpóreos [sýssomos] e consanguíneos [sýnaimos] com ele. E se nele permanecemos, a morte não tem nenhum poder sobre nós. Pela comunhão eucarística, corre em nossas veias a seiva vital do Espírito Santo. Ramos enxertados na Videira, em plena circulação da vida divina, jamais murcharemos.
            Não contente de nos criar e salvar, Deus nos dá seu próprio Filho como alimento de eternidade... Por isso mesmo, é em Cristo que nos re-uniremos todos além das barreiras da morte...
Orai sem cessar: “E os saciou com pão do céu...” (Sl 105,40)
               Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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