sábado, 10 de novembro de 2012

PALAVRA DE VIDA

Deus conhece os vossos corações... (Lc 16,9-15)
 
        É da sabedoria popular: “Quem vê cara, não vê coração.” Cara e coração: o lado de fora e o lado de dentro. E muitas vezes um desmente o outro. Não podemos viver de aparências, pois, como diz o poeta, “muita gente existe / cuja ventura única consiste / em parecer aos outros venturosa”. 
            Só Deus conhece o coração humano. Quando Jesus chama os fariseus de “hipócritas”, vergasta o pecado de simular a fachada de religiosidade quando o íntimo cheira mal, a ponto de compará-los a “sepulcros caiados”. (Mt 23,27.) 
       Como aproximar nosso interior de nosso exterior? O método mais eficiente é o exame de consciência seguido da confissão individual, auricular. Diante de Jesus – na pessoa do sacerdote – reconhecemos os pecados, nossos desvios do caminho do amor. De imediato, nossa miséria faz cócegas na misericórdia de Deus. Perdoados, já não precisamos fingir... 
        Reconheçamos o mal feito nas “confissões comunitárias”, distribuindo absolvição coletiva sem a prévia (e canônica) acusação individual dos pecados. Nos encontros de aconselhamento, pergunto a fiéis que passam longo tempo sem a confissão individual: “Você se sente, de fato, perdoado, com a confissão comunitária?” E a resposta é acompanhada de um risinho maroto: “Não...” 
     Tanto o Código de Direito Canônico quanto a Exortação Apostólica “Reconciliação e Penitência”, de João Paulo II, deixam claro que a confissão comunitária é para situações excepcionais, entre as quais não se inclui o afluxo de numerosos penitentes. O simples fato de serem realizadas a intervalos regulares aponta sua ilegitimidade. Fica também estabelecido que o Bispo que autoriza tais confissões “onera gravemente a sua consciência”. 
      Confissão comunitária leva ao progressivo relaxamento da consciência. Nunca deveria substituir a confissão auricular, pois favorece a via ambígua de manter uma situação interior que não corresponde aos sinais exteriores. 
        A reconciliação exige a presença do outro, pois todo pecado se irradia sobre a família, a Igreja, a humanidade. Não há pecado exclusivamente individual. Por isso, nos confessamos a alguém. Mesmo sabendo que é possível um ato de contrição perfeita, no silêncio do quarto, não é essa a via eclesial. Os exemplos bíblicos (Davi diante do profeta Natan / a adúltera perante Jesus / o filho pródigo aos pés do velho Pai) confirmam esta verdade. 
       Quando o S. Tiago fala em reconciliação, dá-nos o “modo de usar”: “Confessai vossos pecados uns aos outros e rezai uns pelos outros, a fim de serdes curados.” (Tg 5,16.) A pretensão de obter via direta o perdão divino pode ocultar movimentos de soberba, e a falta de sincero arrependimento.  
Orai sem cessar: “Confessarei minhas ofensas ao Senhor!” (Sl 32, 5) 
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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