Um Evangelho que nos deixa desconcertados. Uma estranha matemática! É que nossos conceitos sobre contabilidade não combinam com a lição de Jesus. Mergulhados num universo econômico, cuja bíblia é o livro-caixa (deve / haver / saldo...), achamos natural que o rico dê um dízimo maior, enquanto o pobre
No mundo bíblico, a viúva é o símbolo do desprotegido, das minorias desprovidas. Por isso mesmo, as viúvas formam um trio juntamente com o pobre e o estrangeiro: são os preferidos de Yahweh. Podíamos lembrar Rute, no Antigo Testamento, a viúva de Naim (Lc 7,11) e aquela outra que não desanimou diante do juiz injusto (Lc 18).
Pois esta tiazinha que Marcos fez questão de eternizar mostra de modo cabal que uma pessoa dependente de Deus e confiante em sua paternidade divina não deposita no dinheiro a sua segurança. Sabe dar com naturalidade da sua própria indigência.
Que vergonha! Poupanças, reservas, montepios, planos de saúde, amigos ricos, influências políticas – uma excessiva coleção de “andaimes” na intenção de garantir nosso futuro, quando Deus nos mergulha todo o tempo em seu amor gratuito.
A história da Igreja registra, geração após geração, uma sucessão admirável de homens e mulheres que se abandonaram nas mãos de Deus e, sem apoio humano nem recursos materiais, realizaram obras notáveis. E tudo começou pela pequena esmola de... sua própria vida...
Nos últimos anos, poderíamos recordar Madre Teresa de Calcutá, que jamais recorreu a verbas do governo em seu serviço aos mais pobres entre os pobres. Seu amor à pobreza não era mero ascetismo, era uma abertura para Deus. Veja o que ela escreveu a suas irmãs:
“Deus não pode preencher aquilo que já está cheio, pode preencher somente o vazio, a completa pobreza; o “sim” dado é o começo do ser de vocês ou do se tornarem vazios. Trata-se não daquilo que devemos dar, mas de como estamos vazios, de tal maneira que possamos recebê-lo plenamente em nossa vida. Deixem que ele viva, hoje, a sua vida em vocês.”
Que Deus nos dê a graça de “oferecer tudo”...
Orai sem cessar: “O Senhor os guiou com segurança...” (Sl 78,53)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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