Assim
perseguiram os profetas... (Mt 5,1-12a)
Escrevo estas linhas ainda sob o impacto do assassinato de
Irmão Roger Schütz, fundador da Comunidade de Taizé. Um bem-aventurado? Sim.
Pobre e puro de coração? Sim. Manso e pacificador? Sim. Misericordioso? Sem
dúvida. Dedicou toda a sua vida a tecer pontes entre as Igrejas, semeando a paz
e a concórdia. No entanto, para que fosse ainda mais visível a sua
“bem-aventurança”, acabou assassinado por uma mulher desequilibrada, em plena
reunião de oração.
Nesta
conhecida passagem do “Sermão da Montanha”, que emocionava o próprio Mahatma
Gandhi, Jesus não ilude o grupo de seus seguidores: “Foi assim que perseguiram
os profetas antes de vós.” Ou seja, vocês também serão perseguidos. E, quando o
forem, aí mesmo é que sereis verdadeiramente bem-aventurados!
Naturalmente,
a “receita de felicidade” passada pelo Mestre pode decepcionar bastante aqueles
que pensavam aproximar-se de Deus para resolver todos os seus problemas
particulares. Com Deus, teríamos simultaneamente cura física, sossego e
dinheiro no bolso. Tanto é assim que algumas igrejas fazem seu marketing
a partir de frases do tipo: “Pare de sofrer!”
Entre os
ingredientes amargos, a pobreza e as lágrimas, não-violência e misericórdia,
fome e sede, injúria e perseguição. Sim, mas não em consequência de nossos
erros e imprudências, mas “por minha causa” – diz Jesus. A bem-aventurança cristã
é inseparável do compromisso com o Evangelho de Jesus. Brota do choque frontal entre
a mensagem da Boa Nova e os projetos neopagãos.
Na verdade,
a felicidade consiste exclusivamente no próprio Senhor, na vida em comunhão com
ele. Se os mártires caminhavam para o cepo entoando alegremente hinos de
louvor, é que ali mesmo tomavam posse da felicidade-em-Deus. Sabiam que faziam
um bom negócio em dar a vida que passa pela vida que não passa.
Se ainda
julgamos que o homem feliz é aquele que tem “muito dinheiro no bolso / saúde
pra dar e vender” – como na valsinha natalina, acabaremos discordando de Jesus
Cristo. Se, ao contrário, queremos viver como filhos de Deus (Mt 5,9),
entenderemos o convite à alegria...
Sou um
bem-aventurado?
Orai sem cessar: “Feliz o homem que tem seu refúgio no Senhor!” (Sl 34,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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