sábado, 3 de novembro de 2012

PALAVRA DE VIDA


Toma o último lugar... (Lc 14,1.7-11)


            A sociedade tem suas classes: escravos, servos da gleba, proletários e burgueses, nobres e reis. Na Índia, existem até castas incomunicáveis, rigidamente estratificadas: brâmanes, xátrias, vaicias, sudras e, no nível mais baixo, os párias. Mesmo na Igreja, temos uma hierarquia: cardeais, bispos, sacerdotes e leigos. Não é assim no Reino dos céus...
            No Reino de Deus, o último lugar já está ocupado: Jesus Cristo tomou posse dele. Sendo Deus, fez-se homem, ao se encarnar. Sendo homem, fez-se servo, lavando os pés dos apóstolos. Desceu ainda mais e se fez escravo, morrendo na cruz (tormento que não podia ser aplicado a um cidadão romano, pois sua dignidade o proibia). Sem se deter, Cristo desce ainda mais: ao túmulo. Prossegue seu movimento para baixo e “desce à mansão dos mortos”. E como se fosse pouco, desce sobre o altar, todos os dias, sob a aparência de pão: isto é, matéria, abaixo da pessoa humana...

            Esta é a kênosis, o despojamento voluntário que o Servo sofredor abraçou para nos salvar. Nada foi baixo demais, humilde demais para ele. Determinado a nos salvar, foi até o fim (cf. Jo 13, 1). Por isso mesmo, Jesus deve ter sofrido com a atitude de seus discípulos, que discutiam aqui e ali a respeito de quem seria o maior no Reino (aqui, entendido como um reinado temporal, quando Israel iria recuperar a glória e o poder dos tempos de Salomão).

            No Evangelho de hoje, temos um banquete – exatamente a imagem recorrente na Bíblia para designar a Ceia do Cordeiro, isto é, o “céu”. Os banquetes da Palestina eram servidos em mesas em forma de “U”. O anfitrião e seus convidados mais nobres ficavam na curva do “U” e, lógico, eram os primeiros a serem servidos. Na “ponta da mesa” ficavam os menos cotados...

E Jesus nos dá um atalho para o céu: ocupar o último lugar! Absurdo que pareça, após a morte há notável inversão, como se vê na parábola de Lázaro, o mendigo, e do rico Epulão (cf. Lc 16,25). Fracos se tornam fortes, pobres ficam ricos, humilhados ocupam os primeiros lugares. Quem foi privado das regalias deste mundo acabará compensado no outro. “Os últimos serão os primeiros.” (Mt 20,16.) “Quem se humilha será exaltado.” (Lc 14,11.) E será agradável ouvir do próprio Mestre, nosso anfitrião: “Amigo, chega-te mais para cima!”
            Que posição nós temos procurado?
Orai sem cessar: “Derrubou do trono os poderosos, exaltou os humildes...”

                  (Lc 1,52)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
 

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