segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

PALAVRA DE VIDA


Deixando o pai... (Mc 1,14-20)
           Entre os valores principais dos grupos humanos, destaca-se, sem dúvida, a relação entre pais e filhos. Basta lembrar que ela foi objeto de um dos mandamentos divinos: “Honrarás teu pai e tua mãe” (Dt 5,16). É exatamente a única das “dez palavras” que trazem anexa a dupla promessa da longevidade e da felicidade sobre a terra, o que lhe dá especial relevância.
            Deste vínculo entre pais e filhos nascem outros valores derivados, igualmente importantes, como os conceitos universais de herança, laços de sangue, coesão do clã e da tribo, linhagem e descendência, entre outros não menos significativos, conservados ao longo dos séculos pelos mais diversos grupos humanos.
            Ora, este Evangelho tem no seu âmago nada menos que a áspera ruptura do vínculo pai X filho, colocado em segundo plano diante do chamado de Jesus aos dois futuros apóstolos. A ruptura pode ser acentuada se, ao lado do velho pai, incluímos o abandono da barca e do mar.
            O “mar” – na verdade o Lago de Tiberíades, promovido a mar em uma região de águas não muito abundantes – era o espaço de onde a família extraía o sustento. A barca era o instrumento que lhes garantia o pão de cada dia. Mar, barca, pai – três realidades que mereceriam ser incluídas na categoria do “indispensável”. Pois foi delas que os dois filhos pescadores abriram mão para aceder ao chamado do Mestre.
            Absurdo? Não. Trata-se de uma hierarquia de valores. Existiria, então, um valor mais alto que a filiação humana? Claro que sim: a filiação divina. Se Jesus Cristo não fosse o Filho de Deus, convocando homens para a edificação do Reino do Pai, aquela ruptura seria de fato absurda. Mas era um chamado divino!
            Bem, não exageremos. Muitos filhos rompem vínculos com pai e mãe por outros motivos igualmente “nobres”: estudar no estrangeiro, trabalhar em terras distantes ou, simplesmente, casar-se e ter a própria família. Todas estas rupturas nos parecem... naturais...
            Quando Deus chama, porém, e a jovem acolhe o chamado e vai para o claustro, sempre surge alguém afirmando que a velha mãe precisava dela. Se o jovem abandona o curso de engenharia para entrar em uma comunidade missionária, ouvem-se vozes para clamar que ele enlouqueceu...
            Pedro e André – personagens deste Evangelho – teriam ficado loucos? Teriam jogado no lixo a veneração e a gratidão merecida pelo pai Zebedeu? Ou foi impossível resistir à imperiosa sedução exercida por Jesus de Nazaré? Não respondam rápido. Não façam pouco do magnetismo apaixonante que Jesus exerce sobre almas e corações...
            Basta lembrar a lição do Senhor: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”. (Lc 9,62)
Orai sem cessar: “Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração.” (Mt 6,21)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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