Podes purificar-me... (Mc 1,40-45)
Uma cena
pungente. Saindo de seu isolamento social, o leproso se aproxima de Jesus e, de
joelhos na terra, faz um ato de fé: “Se queres, podes purificar-me!”
Não está em
questão apenas a cura do seu mal, mas algo mais amplo e mais profundo: a sua
purificação. No texto grego de Marcos, lê-se o verbo catharísai, rico de ressonâncias espirituais.
Por falar
nisso, vivemos em um mundo cada vez mais sujo. Sujeira nos ares e nos mares. O
comércio oferece purificadores para a água e para o ar. Em alguns países, o
excesso de fertilizantes químicos “sujou” até mesmo o solo arável. Em Fukushima
e Tchernobyl, a sujeira da radiação atômica tornou vastas áreas inabitáveis.
Já nos
tempos de Cristo, a lepra carregava consigo o estigma da impureza física e espiritual:
seria o pecado a causa da enfermidade. Entre os judeus, a preocupação com a
pureza ritual deixa marcas bem visíveis nos textos do Novo Testamento. Túmulos
pintados de cal, para evitar que alguém esbarre neles e se torne impuro. Longos
rituais de ablução das mãos, dos pratos e vasilhas.
Aqui e ali, no entanto, sob o olhar
de condenação dos fariseus e dos homens da Lei, Jesus de Nazaré quebra esses
preceitos ao estender as mãos a leprosos e paralíticos, ou deixando-se tocar
por pecadores públicos e sentando-se à mesa com os publicanos. É que Jesus é
puro. O puro purifica. Muito mais que um médico do corpo, Jesus Cristo que
purificar nossas almas e nossos corações...
E bem que
precisamos! Pensamentos sujos macularam nossa mente. Atos sujos mancharam nossas
mãos. Palavras sujas emporcalharam nossa língua. Uma enxurrada de sujeira tirou
o brilho de nossos olhos, aquele olhar de infância que perdemos no passado...
Chegamos ao ponto de avaliar como “natural” a avalanche de lixo que a TV nos
oferece à nossa neutra contemplação...
Ironicamente,
investimos muito dinheiro em cosmética – a ciência da limpeza: cremes e
sabonetes, loções e detergentes, raios infravermelhos e ultravioleta. Mas os
corações cheiram mal. Do fundo da cloaca, sobem os miasmas da inveja e da
maledicência, o fedor da luxúria e da avareza. Quem nos purificará?
O salmista
nos aponta o caminho da purificação interior: “Purifica-me com o hissopo e
ficarei puro; lava-me e ficarei mais branco do que a neve!” (Sl 51,9)
Na Quaresma
e no Advento, de modo especial, mas também no início de cada Eucaristia, a
Igreja nos convida à penitência: estou sujo, só Deus me pode limpar... E Jesus,
o mesmo ontem e hoje, nos convida à purificação. Até quando iremos conviver com
tanta sujeira?
Orai sem cessar: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro!” (Sl 51,12)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança
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