Saiu para um lugar solitário... (Mc 1,29-39)
Não foi um
ato isolado. Era costume de Jesus (cf. Lc 22,39) recolher-se à solidão e ali,
longe do burburinho da multidão, rezar ao Pai. Foi assim antes de iniciar sua
vida pública. Foi assim na hora de escolher os Doze. Foi assim no momento
crítico de sua agonia. Mesmo sendo Deus, Jesus Cristo sabe que precisa da
oração para resistir ao tentador, para discernir suas escolhas, para reunir
forças e se entregar à morte. Tendo assumido na carne a nossa humana
fragilidade, o Filho do Homem busca conforto no Pai.
Nós, talvez
não... É que somos muito sabidos, já temos a resposta para tudo. Após alguns
séculos de Iluminismo, nós nos consideramos muito experientes, podemos
antecipar os acontecimentos, exceto, talvez a chuva e os terremotos. E como
preferimos ser autônomos, traçando nosso próprio roteiro, não precisamos pedir
palpites a ninguém. Em suma, nós nos viramos sozinhos...
Claro que é
ironia. Nosso comportamento chega a ser risível. Ignorando o barro de que fomos
amassados, arrotamos prosopopeias e nos lançamos a empreitadas absolutamente
loucas sem sequer um momento de silêncio, na presença de Deus, a invocar as
luzes do Espírito Santo. Esta insensatez inclui pais e educadores, pastores e
autoridades da Igreja, que assumem projetos inspirados pela vaidade e pela
ambição, pela busca de aplauso e de fama, sem antes verificarem – dentro dos
limites possíveis de nossa frágil humanidade – qual é a vontade de Deus para
cada situação.
Os santos
não são assim. Quem lê a vida de homens e mulheres de Deus, como Dom Bosco e
Madre Teresa de Calcutá, espanta-se ao descobrir suas noites de vigília, seus
tempos de oração diante do Santíssimo Sacramento. Em nossos dias, o saudoso
Papa João Paulo II iniciava sua jornada por quatro horas inteiras de oração na
sua capela particular, às vezes prostrado no chão frio.
Fica difícil
distinguir se somos muito orgulhosos ou pouco inteligentes. Como entender nossa
atitude de apostar tudo na ação e pouco investir na oração?
Lá do fundo
do Evangelho, ressoa a voz amiga de Jesus Cristo: “Vigiai e orai, porque não
sabeis quando será o momento!” (Mc 13,33.) “Vigiai e orai, para que não entreis
em tentação!” (Mt 26,41.) Ele conhece nossa fraqueza e sabe que dependemos em
tudo da graça divina. Pena que ainda precise se lamentar: “Não tivestes força
para vigiar uma hora comigo?!” (Mt 26,40.)
Como está a
nossa vida de oração?
Orai sem cessar: “Minha alma espera pelo Senhor,
mais que os vigias pela manhã.” (Sl 130,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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