domingo, 16 de junho de 2013

PALAVRA DE VIDA

 Ela mostrou muito amor... (Lc 7,36-8,3)
          Uma cena extremamente forte! Bem no meio de um banquete – ambiente exclusivamente masculino na Palestina romana – uma mulher de má reputação na cidade invade o recinto e se põe atrás de Jesus, que estava reclinado no pequeno sofá, pois assim ficavam os convivas, apoiados no cotovelo esquerdo, enquanto se serviam com a mão direita, na mesa em formato de “U”.
Ela beijava os pés de Jesus, molhava-os com lágrimas e, ao notar que sujava os pés do Rabi com suas lágrimas impuras, logo os enxugava com seus longos cabelos. Aliás, a mulher da Palestina mantinha habitualmente os cabelos presos sob o véu, e só os soltava para o seu marido, na intimidade da alcova. Soltar os cabelos em público era algo simplesmente impensável!
Na tradição judaica, se o impuro toca alguém, transfere a esta pessoa a sua própria impureza. Diante daquela cena insólita, o anfitrião, o fariseu Simão, se escandaliza: “Fosse este um profeta – isto é, um iluminado de Deus -, saberia que tipo de mulher é esta aí...” Jesus, porém, está lendo seus pensamentos. Daí a pronta lição:
 “Simão, você não mandou lavar meus pés com água, como é costume entre nós. Ela os lavou com lágrimas. Simão, você não me beijou o rosto com o ósculo da paz, como é tradição na hospitalidade oriental. Ela me beijou os pés. Simão, você não mandou ungir minha cabeça com óleo. Pois ela ungiu meus pés com precioso nardo importado do Egito (cf. Jo 12,3). Como explicar a diferença de atitudes? É que ela foi perdoada, por isso ama tanto! Você acredita que não precisa de perdão, por isso não ama...”
Este é o risco dos honestos: tão prontos a julgar e condenar os outros, mas tão lentos em perceber que também precisam de perdão. Tão afeitos a cumprir normas e a se sentirem superiores por isso, mas tão lerdos a perceber que o amor supera todas as normas e cobre a multidão dos pecados...
Estive pensando que o sacramento da reconciliação e da penitência – a popular confissão dos pecados – foi um belo gesto de amor da parte de Jesus, que se alegra em nos dar seu perdão. Verifico também que muita gente evita este sacramento. Será que se identificam com o fariseu Simão, julgando que não precisam do perdão que Deus nos oferece gratuitamente? Será que não percebem suas palavras, gestos e omissões que sinalizam egoísmo e indiferença ao próximo, impulsos de ira e violência, desejos e pensamentos nem sempre “confessáveis” ?
            Mas isto parece fora do contexto, não é?

Orai sem cessar: “Deus tenha misericórdia de nós!” (Sl 67,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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