Nem tocas nem ninhos... (Mt 8,18-22)
A
resposta de Jesus ao escriba que se candidatava a segui-lo pode parecer um
tanto bruta. Estamos acostumados a boas maneiras, mesmo que seja preciso mentir
só um pouquinho... Jesus de Nazaré não é assim. A última coisa que ele faria
seria adocicar o chamado para nos seduzir como formigas açucareiras.
Sim,
a realidade do apóstolo é dura. Não há espaço para sonhos românticos. E
exatamente aqui está a razão de tantas desistências, seja no ministério
ordenado, na vida consagrada ou mesmo nos casamentos. Sonhamos demais, douramos
a pílula e, quando nos defrontamos com a áspera realidade, fazemos meia volta e
descemos da barca.
Coisas
de uma sociedade hedonista cujas escolhas são motivadas pela perspectiva de
prazer, comodismo, lucros e aplausos. No polo oposto, o chamado de Cristo, que
nos adverte logo de início: o Filho do homem (o próprio Mestre) não tem onde
reclinar a cabeça. Sempre a caminho de Jerusalém – isto é, em marcha direta
para cumprir sua missão no Calvário -, Jesus não tem tempo para lazeres e
distrações. Natural que ele espere do seguidor o mesmo comportamento...
Jesus conhecia muito bem
as disposições interiores necessárias para segui-lo. Um rude pescador, como
Pedro, ou um áspero zelota, como o outro Simão, enfrentariam mais facilmente as
dificuldades da vida de discípulo. Por isso mesmo, Jesus começa por mostrar as
condições de vida do próprio Mestre: não dispõe de tocas, como as raposas, nem
de ninhos, como as aves do céu. Isto é, nenhum lugar de repouso, nenhum porto
seguro. Pobreza total.
Isto
explica que a maior parte das vocações consagradas saia, hoje, das famílias
mais pobres? Explica que as famílias burguesas deem à sociedade meninos
mimados, egoístas e incapazes de trabalhar em equipe?
Seguir
a Jesus significa adotar seu estilo de vida. Carência de meios, ausência de
seguranças, prestígio nenhum. Obviamente, o escriba não estava à procura de uma
condição assim...
Pode
acontecer que nos deixemos iludir por uma falsa imagem da vida cristã,
enfeitada de purpurinas e acolchoada de confortos. Ora, o caminho do cristão
sempre foi áspero. E quanto mais o mundo se deixa paganizar de novo, tanto mais
o seguimento de Jesus exigirá sacrifício e despojamento. Sem disposição para sofrer,
é impossível ser fiel a Cristo.
Orai sem cessar: “Se vos possuo, Senhor,
nada mais me atrai na terra!” (Sl 73,25b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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