Esse é meu irmão... (Mt 12,46-50)
Como
entender a reação de Jesus, que parece evitar o contato com o grupo de
familiares que o procura? O primeiro ponto a considerar nos é dado por São
Marcos: diante da atuação pública de Jesus, que atraía multidões, seus parentes
duvidam de sua sanidade mental e pretendem leva-lo à força para casa. (Cf. Mc
3,21.) Afinal, era um carpinteiro de Nazaré que se comportava como um Rabi... A
súbita mudança de rumo em sua vida podia, mesmo, assustar os mais próximos. E o
bom senso nos leva a crer que Maria, sua mãe, acompanhava os parentes a contragosto.
Avisado da
chegada dos familiares, Jesus aproveita para dar a todos uma lição. A própria
noção de “família” é alterada, quando o Mestre aponta para a multidão sedenta
de sua Palavra e diz: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão e minha irmã e minha
mãe”. Não há nada aqui que nos deva espantar. De fato, quem obedece ao Pai do
céu, quem ouve sua Palavra, age como filho. Irmana-se, pois, com Jesus, o Filho
obediente, que jamais foi capaz de pôr seus próprios interesses e vontades
acima da vontade do Pai.
Antes que
alguém tente valer-se desta passagem para desmerecer a figura da Mãe de Deus, é
bom lembrar que Maria é exatamente o modelo de quem ouve e acolhe a Palavra em
seu íntimo, a ponto de gerar o Verbo na própria carne. Assim sendo, ela se
encaixa perfeitamente na nova definição de família que Jesus acaba de divulgar.
No
contraste entre os laços de sangue e os laços de espírito, estes ficam com a
primazia. Realidade experimentada por tantas pessoas, que acabaram por
estabelecer relações de maior intimidade, mais confiança e calor humano entre
companheiros de caminhada na fé do que entre os próprios membros da família
carnal. Tanto que os monges chamavam seu superior de Pai (Abba, Pater), e as
monjas viam na superiora a sua Mãe (Madre). O membro da mesma comunidade era
irmão (frater) ou irmã (sóror).
Se, por um
lado, o cristianismo veio valorizar a família, reconhecendo nela algo sagrado e
querido por Deus, por outro lado acenou também com a necessidade de rupturas e
desapego familiar quando se trata de seguir os chamados do Senhor. E o exemplo
maior nos vem de Jesus, que precisou deixar sua mãe, já viúva, para seguir a
exigente missão que o Pai celeste lhe confiara.
Orai sem cessar: “O Senhor faz as famílias numerosas como rebanhos.” (Sl
107,41)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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