Mulher, por que choras? (Jo 20,1-2.11-18)

Os
Evangelhos confirmam esta realidade. Choram as mães de Belém, quando Herodes
manda matar seus bebês. Choram os parentes de Talita, a menina morta, antes que
Jesus a ressuscitasse. Chora a pecadora, lavando os pés do Mestre e
enxugando-os com os cabelos. Chora Pedro, amargamente, após a tríplice negação.
Chora o próprio Jesus, comovido com a morte do amigo Lázaro. Sem falar nas
lágrimas de sangue da terrível agonia no Getsêmani...
As
lágrimas manifestam sentimentos de perda, desespero, desconsolo. Mas há
lágrimas de arrependimento, lágrimas de conversão. Há um pranto solidário, que
chora a dor alheia. Há um pranto convulso que lava a alma, dilui as pedras do
coração. Pranto de alegria ao recuperar o filho perdido na cidade grande. Mas
ninguém chora sem algum motivo. Nem mesmo as criancinhas.
Daí
a pergunta feita a Madalena, na aurora da Ressurreição: “Mulher, por que
choras?” Quase sempre, interpretamos esta pergunta como se fosse uma leve
repreensão, dado que ela já não teria razões para chorar, pois o “querido
Mestre” (Rabunni) já havia ressuscitado.
Prefiro,
no entanto, ver na pergunta de Jesus uma constante daquele que é todo
misericórdia: não há nada de humano, em nós, que não lhe interesse de perto.
Sua Encarnação inclui este aspecto. Sofrer com os que sofrem. Celebrar com os
que se alegram. Caminhar na mesma estrada. Sentar-se à mesma mesa.
Maria
Madalena continua buscando pelo Mestre mesmo após o seu sepultamento. Como é
admirável o afeto do pecador que mudou de vida! Vai muito além do amor
satisfeito dos honestos, das almas puras, das estrelas-alfa. Já vi terríveis
manifestações de ciúme diante da confissão pública dos pecadores... É que o
pecador experimentou as alternativas e sabe que Deus vale mais...
Quando
Jesus pronuncia seu nome – Maria! –, ela
reconhece o Mestre. Já não o confunde com o jardineiro. Afinal, só Jesus
chamava por ela com aquela entonação. E tenta, agora, retê-lo. Jesus não o
permite, mas dá-lhe a missão de ser a primeira mensageira da ressurreição: “Vi o Senhor!”
Orai sem cessar: “Oh! Esta é a voz do meu amado!” (Ct 2,8)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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