Andas inquieta... (Lc 10,38-42)

Marta
tropeça, no entanto, quando reclama, sentindo-se prejudicada, e tenta forçar a
irmã a imitá-la. E, de quebra, ainda leva uma suave repreensão do Mestre, que
elogia a escolha de Maria: “Ela escolheu a melhor parte”...
Segundo Hans Urs von Balthasar,
“não é a hospitalidade afobada de Marta que ocupa o primeiro lugar, mas a
palavra de Deus pronunciada por Jesus. Nenhuma obra realizada para Deus merece
o dom da palavra; e esta é dada gratuitamente a Maria porque ela está aberta e
pode ouvi-la”.
Na
prática, não se vive só de coisas “espirituais”, como a oração e o jejum, as
meditações e as pregações. Encarnados que somos, nós precisamos de água e pão,
bebida e comida, banho e remédios, escola e trabalho. Mas, se a legítima
tradição cristã ensina a espiritualizar as coisas materiais, isto é impossível
a quem não se detém para ouvir o Senhor.
A
História da Igreja está cheia de episódios que envolvem “servidores” que
desanimaram ou se corromperam em sua ação, apesar de bem intencionados,
exatamente porque não encontraram o tempo de oração e meditação da Palavra de
Deus. Mesmo nas comunidades religiosas, é comum que os membros não encontrem
algum tempo para a oração comunitária, de tal modo estão assoberbados por suas
atividades.
Os
autores espirituais chamam nossa atenção para a esterilidade da ação que não é
iluminada pelo Espírito de Deus, mas acaba se resumindo a esforço humano a
partir de iniciativas pessoais que não correspondem às divinas intenções.
É
claro que o trabalho também é um caminho de santificação. A presença cristã nos
ambientes de trabalho e de estudo, na família e na sociedade, é algo tão sagrado quanto a oração. No entanto, a sabedoria de São
Bento aponta para o equilíbrio entre os dois pólos: ora et labora (reza e
trabalha). A afirmativa: “minha ação já é oração”, tão em moda no período
pós-Vaticano II, está na raiz de muitos desastres humanos e espirituais.
Em
minha Betânia pessoal, que espaço reservo para Marta e para Maria?
Orai sem cessar: “Guardo vossa palavra no fundo do coração!” (Sl 119,11)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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