domingo, 28 de julho de 2013

PALAVRA DE VIDA

 (Lc 11,1-13)
            Ele bate à porta. Ele faz barulho. Ele pede pão. É noite fechada. A porta trancada. As crianças já dormem. Para abrir a porta, é preciso mover a tranca de ferro, fazer mais barulho e puxar a esteira dos pequenos que dormem junto à porta.

            Sim, é casa de pobres. Dois cômodos, paredes de barro, chão de terra batida, janelas ínfimas. Mas sobrou pão. O vizinho sabe, pois sua mulher tinha visto ao passar. Aquele mesmo pão que Maria de Nazaré amassava ao pôr do sol, com três medidas de farinha (cf. Lc 13,21), deixava crescer e assava de madrugada no forno de barro do quintal.
            O dono da casa não quer abrir, e tem bons motivos. O vizinho insiste, pois uma visita inesperada merece a justa hospitalidade. Mais um pedido: “Empresta-me três pães!” Notaram? O homem do lado de fora não tem vergonha de pedir. Não tem vergonha de insistir. Não desiste com a negativa. Não se curva aos argumentos. E continua insistindo.
            Gosto da tradução da TEB – a Tradução Ecumênica da Bíblia, que põe estas palavras na boca de Jesus: “Mesmo que ele não se levante para lho dar por ser seu amigo, pois bem, porque o outro não tem vergonha [l’autre est sans vergogne, no original da TOB], ele se levantará para lhe dar tudo o que lhe é preciso”. (Lc 11,8) E esta é a lição conclusiva da saborosa parábola do vizinho importuno.
            Está claro? O assunto central desta parábola é a vida de oração. Numa única frase, “pedi e recebereis”. Sim, é para insistir além da medida, além das boas maneiras, além do bom senso, além das conveniências. Quem insiste e persiste, obtém o que pede. Oração envergonhada não arromba as portas fechadas.
            Mas, atenção! O mais importante da mensagem diz respeito ao Dono da casa. Aquele que escuta nossos rogos noturnos não é um vizinho incomodado, despertado do sono profundo. Quem ouve nossos gritos é um Pai extremado, amoroso, que não dorme nem cochila (cf. Sl 121,4). E, natural, é impossível incomodar um Pai assim...
            Para refletir sem pressa: a quem eu costumo rezar? Minhas preces se dirigem a um juiz? A um policial? A um chefe de almoxarifado. Ou são dirigidas a um Pai?
Orai sem cessar: “Ele me invocará: Tu és meu Pai!” (Sl 89,27)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.


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