Bolsas
que não se gastam... (Lc 12,32-48)
Uma
sociedade pagã – ou neopagã, como se tornou a nossa – também deve encarar a
mesma realidade. Uma das atitudes típicas do pagão é o “carpe diem”, lema equivalente ao refrão do fim de Carnaval: “É hoje
só, amanhã não tem mais!” Já que tudo acaba, vamos “curtir” o momento presente.
Esta é a receita do hedonismo. Um tempo presente volátil e nenhum tempo futuro.
Na
recente crise econômica que vai roendo a Europa, um magnata alemão era dono do
maior complexo industrial do cimento. Sua fortuna era avaliada em 9,2 bilhões
de dólares. Com a crise, em janeiro de 2009, a bolsa de valores foi afetada e o
bilionário perdeu 3 bilhões do dia para a noite. Vendo-se empobrecido,
possuindo apenas 6 bilhões, deixou uma carta para a família e suicidou-se. Era
o 5º mais rico da Alemanha...
Um
exemplo extremo, sim, mas paradigmático da loucura de uma vida orientada para a
acumulação e a posse. Exatamente a atitude oposta aos conselhos de Jesus nos
versículos que antecedem o Evangelho de hoje: a confiança em Deus, nosso Pai,
com frutos de serenidade e segurança, liberdade perante os bens materiais. Sem
essa confiança – sugere Jesus -, nosso coração é invadido por preocupações,
ansiedade, inquietação.
Para
acentuar a insanidade desse estilo de vida, o Mestre alude a tesouros que não
se acabam, bolsas que não se estragam. No caso do industrial alemão, a “bolsa”
o levou a morte, pois seus valores escorreram pelo ralo.
No
interior do Estado do Rio, conheci fazendas e regiões inteiras antes ricas e
florescentes em função da lavoura do café. A Bolsa de Nova Iorque sofreu o
conhecido “crack” em 1929 e os produtores foram à falência. Hoje, na região, o
café brota nativo no meio da floresta que invadiu os terreiros...
Sim,
é preciso trabalhar. Existe uma cidade dos homens a ser construída, pois Deus
há de aproveitá-la como matéria-prima do mundo novo. Mas não devemos construir
torres enganosas. Babel não fica de pé. Como ensina Jesus, vamos buscar o Reino
de Deus, e teremos por acréscimo o pão, as vestes e a casa... Por enquanto,
alerta o apóstolo Paulo, são “tendas provisórias” (2Cor 5,1-4), mas o Senhor
nos prometeu uma morada permanente em seu Reino.
Orai sem cessar: “Se o
Senhor não construir a casa,
é inútil o cansaço dos pedreiros!” (Sl
127,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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