Eles não
fizeram caso... (Mt 22,1-14)
Aqui
ocorre uma fratura na narrativa. Os convidados recusam o convite, pois têm
outros interesses, ocupações que não devem interromper: campos a trabalhar e
negócios a realizar. Desprezando o excepcional favor que lhes é oferecido,
chegam ao extremo de ultrajar e assassinar os enviados do Rei. Quem seriam os
enviados, portadores do convite real? São os profetas. Perseguidos como
Jeremias, decapitados como João Batista. Quem são os convidados preferenciais?
O povo de Israel, “preferido” de Deus, ao qual “foram dadas a adoção, a glória,
as alianças, a Lei, o culto, as promessas e os patriarcas” (cf. Rm 9,4-5).
Estamos,
aqui, diante de um terrível mistério: o mistério da recusa de Deus. A recusa da
salvação. Em sua liberdade, o homem pode abraçar o mal e rejeitar o bem. Pode
repelir a luz e mergulhar nas trevas. Nesse sentido, poderíamos afirmar que
Deus não nos condena, mas nós mesmos nos condenamos quando escolhemos outro
deus, um outro senhor, que pode ser o dinheiro, o poder, a fruição dos prazeres
ou, enfim, nosso próprio EU.
A
segunda parte da parábola mostra o afã do Rei em não deixar vazia a sala do
banquete. Desta vez, são “ajuntados” os que estão à margem os “de fora”, que
vagueiam pelos caminhos e encruzilhadas. Diante da recusa de Israel, também aos
“pagãos” – “os que não eram povo” – é oferecida a veste branca, que S. Gregório
Magno interpreta como a virtude da caridade.
Nós,
cristãos e batizados, temos algo em comum com o povo hebreu da Primeira
Aliança: nós nos sentimos especiais, privilegiados, especialmente quanto
comparamos nosso culto com as práticas dos animistas, com seus fetiches, ou com
os hindus e seus rituais de purificação.
Cuidado!
Podemos cair na armadilha criada por nosso próprio orgulho. Depois de décadas
de missas e orações, meditações e penitências, podemos cair na ilusão de que
Deus nos deve algo e - num acesso de loucura espiritual – apresentar ao Senhor
uma fatura, cobrando a salvação. Ora, o banquete é puro dom. Pura graça. Nada
merecido. Nada conquistado com suor e sacrifícios. Tão gratuito quanto a
entrega de Jesus, em sua Paixão: puro ato de amor.
Amor
com amor se paga...
Orai sem cessar: “Preparas uma mesa para mim...” (Sl 23,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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