Os céus narram a glória de Deus! (Sl
19a [18a])
O
homem da Bíblia é um contemplativo. Ele não se distrai com as quinquilharias
deste mundo. Saindo de sua tenda, no veludo da noite, Abraão é convidado por
Deus a contemplar as miríades de estrelas no firmamento e os incontáveis grãos
da areia da praia. Do mundo macroscópico ao reino microscópico, as visíveis pegadas
do Criador...
O
acelerado progresso da ciência, ao contrário de solapar os fundamentos da fé,
veio contribuir ainda mais para nossa admiração diante dos mistérios do Cosmo.
E há muito mais por vir: os meandros da genética e o torvelinho das
nanopartículas deixarão nossos olhos arregalados diante da infinita
Inteligência criadora.
Deus
se revela no mundo. A Criação elogia o Criador. O teólogo ortodoxo Olivier
Clément cita Máximo, o Confessor [580-662 d.C.], que distingue três graus na
“incorporação” do Verbo de Deus. Em primeiro lugar, a própria existência do
Cosmo, da Criação, que é compreendida como uma teofania, isto é, uma manifestação
de Deus: “Os céus narram a glória de Deus”.
O
segundo grau foi a própria Lei, na qual se incorporava o Verbo na forma de uma
Escritura sagrada, revelando aos homens um Deus pessoal que participa de nossa
história. E o terceiro, a Encarnação propriamente dita, levando a seu pleno
sentido as duas incorporações anteriores: “O Verbo se concentra e assume um
corpo” (Máximo, o Confessor), nascendo de Mulher. Ou, na expressão máxima de
São João, “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1,14)
Voltando
ao passado dos patriarcas – e mais ainda, das civilizações primitivas -, muito
antes da Lei e dos profetas, o homem tinha ao seu dispor este Evangelho sem
letras gravado nas constelações e nos oceanos, no ciclo das estações e em cada
grão de trigo. Ali se via uma ordem reveladora, ali pulsava uma vida sempre
regenerada, denunciando uma Fonte oculta, mas real.
Foi
contemplando um simples cristal de neve que brotou, no íntimo de Jacques Loew,
jovem ateu e futuro missionário, a consciência de um Deus Criador. Ele escreve:
“Meu olhar pousado na perfeita beleza de um floco de neve efêmero abalou minha
vida. Este cristal era um mensageiro, o murmúrio de um além a que eu não sabia
como designar, do qual não podia mais duvidar. Não chegara como uma prova, repleta
de demonstrações: era uma presença, a minúscula prova material que basta por si
só, um reflexo do invisível”. (“Meu Deus
em Quem Confio”, p. 35, Ed. Paulinas, 1986)
Orai sem cessar: “Vimos sua estrela no Oriente e viemos
adorá-lo!” (Mt 2,2)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário