Alegre-se Israel! (Sl
149)
O
pagão é triste. Nem podia ser diferente. Se tudo acaba com a morte, não temos
saída. Os epicuristas tentaram “curtir” o presente: carpe diem! “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos.” (1Cor
15,32) No polo oposto, os estoicos adotaram a fuga dos prazeres. Pois os dois
extremos se encontraram: Epicuro e Zenão suicidaram-se.
Nossa
alegria, nós não a fabricamos: é fruto da Graça de Deus! É comovente o esforço
humano para fabricar a alegria: luzes, cores, danças, ruído, os hits do momento, festivais, palcos e
arenas. Tudo em vão. Ao fim do Carnaval, a mesma “marcha da quarta-feira de
cinzas”: é hoje só; amanhã não tem mais...
O
salmo da liturgia de hoje, o penúltimo do Hallel, é um convite à alegria. Não a
alegria da alacridade, tão conhecida das maritacas e dos roqueiros. Mas a
alegria do júbilo, do jubileu, do yôbel,
a trombeta que anuncia o Ano de Graça do Senhor. Nesse ano jubilar, as terras
voltam a seus antigos donos que as haviam perdido, os escravos são libertados e
a justiça é recomposta.
Para
o fiel, a fonte de sua alegria é o próprio Deus: “Estou cheio de alegria no
Senhor! Minha alma exulta em meu Deus, pois ele me revestiu com as vestes da
salvação!” (Is 61,10) Na Primeira Aliança, alegra-se Ana, mãe de Samuel, curada
de sua esterilidade: “Meu coração exulta no Senhor, é em Deus que eu ergo minha
cabeça!” (1Sm 2,1) Na Nova Aliança, Maria, Mãe de Deus, tem ainda mais razão
para a alegria: “Minha alma exalta o Senhor, meu espírito exulta em Deus, meu
Salvador!” (Lc 1,47)
A
verdadeira alegria é profunda, vem do interior, como resposta aos sinais
palpáveis do amor de Deus. Nada que lembre as palmas forçadas de tantas
celebrações que deviam ser liturgia e não passam de encontros sociais. A
alegria genuína é transformadora: leva à partilha e à renúncia pessoal, pois
quem a experimenta não precisa de outras motivações.
Israel
devia alegrar-se na perspectiva do futuro Messias, quando lobo e cordeiro
viveriam em paz. O novo Israel, a Igreja, rejubila-se com a morte e
ressurreição de Cristo, que rompeu nossos grilhões e abriu-nos a casa do Pai. É
nele que são eliminadas as diferenças entre grego e judeu, escravo e livre,
pobres e ricos. Irmanados em Cristo, a tristeza não tem mais espaço entre nós.
Santo
Agostinho comenta o Salmo 149: “Este é o cântico da paz, o cântico da caridade.
Todo o que se aparta da união dos santos, não canta o cântico novo. Pois seguiu
a velha animosidade, e não a caridade que é nova”.
Orai sem cessar: “O justo se alegrará no Senhor!” (Sl 64,11)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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