Tu és a minha fortaleza! (Sl
43 [42])
Nos
tempos antigos, quando vilas e aldeias estavam à mercê de bandos de malfeitores
ou de tribos invasoras, os aglomerados humanos eram de hábito protegidos por
muros de pedra. Cercados pela muralha, os habitantes do burgo sentiam-se mais
seguros. Em plena Idade Média, ainda era comum aproveitar a topografia do
terreno e edificar a fortaleza sobre um monte rochoso. Assim também, na Bíblia,
a imagem da fortaleza é símbolo de um local inacessível e inexpugnável.
A
muralha de pedra passava a ser como um limiar, a linha divisória entre os “de
dentro” e os “de fora”. Sobre suas ameias, as sentinelas vigiavam na escuridão
da noite (cf. Sl 130,6-7). Nos ícones da Crucifixão [staurósis], vê-se que Jesus foi sentenciado fora de duas muralhas:
a da cidade e a do Templo, denotando a dupla exclusão sofrida por ele, social e
religiosa.
Quando
o salmista se dirige a Yahweh e o identifica como sua “fortaleza”, refere-se obviamente
ao sentimento de proteção que os moradores da cidade experimentavam no interior
da cidade fortificada. Assim, ao se ver livre da ameaça de Saul e dos vizinhos
inimigos, o Rei Davi deu graças ao Senhor: “O Senhor é meu rochedo, minha
fortaleza e meu libertador!” (2Sm 22,2) Apenas nos salmos, Yahweh é invocado
dezoito vezes como rochedo e fortaleza.
Erguida
nas montanhas de Judá, Jerusalém também contava com as defesas naturais do
Monte Sião. Mas os israelitas sabiam que todas aquelas estruturas seriam
irrisórias sem a Presença do Senhor, sua verdadeira defesa: “Deus é para nós um
refúgio e fortaleza, o socorro sempre oferecido nas tribulações”. (Sl 46,2)
Aliás, Israel registrava em sua história um caso exemplar de muralhas
ciclópicas que não haviam resistido ao poder divino: a cidade de Jericó tivera
seus muros abatidos a golpes de... trombetas! (Js 6,20)
É
assim que São João Crisóstomo veria mais tarde a fé cristã à semelhança de
muros e torreões, como defesa contra os ataques do maligno. Para vencer o
inimigo, é preciso invadir seu território e arrombar suas portas. Nos ícones da
Ressurreição [Anástasis], muitas
vezes o demônio aparece prostrado, entre portões arrombados, dobradiças e
fechaduras lançadas ao solo, enquanto Cristo arranca do túmulo a humanidade
representada por Adão e Eva.
Os
fiéis esperam pelo cumprimento de “novos céus e nova terra”, quando a Jerusalém
celeste virá do alto e, estabelecida a paz, suas portas já não precisarão ser
fechadas a cada dia, pois não haverá mais a noite. (Cf. Ap 21,25)
Orai sem cessar: “O Senhor é a nossa defesa!” (Sl 89,19)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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