Como um jardim irrigado...
(Jr 31,10-13)

O
tema do “Paraíso Perdido”, a terra
das delícias, a Xangri-La onde ninguém envelhece e todos são felizes,
atravessaria os séculos, na literatura e no cinema, desde John Milton até James
Hilton. Mais que mera ficção, este Jardim está bem vivo no inconsciente
coletivo da humanidade: é o lar primitivo para onde deverá regressar quando as
coisas voltarem ao seu lugar de desígnio.
Foi
no jardim que Adão tomou consciência de sua nudez. Foi no jardim que Deus
costurou para ele uma cintura de couro, a mesma veste de misericórdia que os
profetas iriam usar (cf. 2Rs 1,8). Enquanto esse jardim não lhe for reaberto, o
homem será atenazado por essa nostalgia.
Ora,
as promessas de Deus incluem esse retorno à Fonte. Na Bíblia, o jardim é
símbolo de um lugar privilegiado, espaço da presença divina que tudo fecunda e
regenera. O mesmo local da degeneração humana será o lugar da regeneração. Na
profecia de Isaías, “o Senhor tem piedade de Sião, tem piedade de suas ruínas.
De seu lugar desértico ele fará um Éden e de sua estepe o jardim do Senhor”.
(Is 51,3)
No
“Cântico dos Cânticos”, esse poema
sinfônico sobre a Aliança-casamento entre Deus e a Humanidade, o jardim fechado
é imagem da Virgem que só abrirá as portas para seu Amado: “Tu és um jardim
fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada! Teus
rebentos são um jardim de romãs com frutos escolhidos. [...] A fonte dos
jardins é como um manancial de água corrente...” (Ct 4,12-13.15)
Mas
existe outro jardim que não pode ser esquecido. Foi no Jardim das Oliveiras que
da Fonte da Salvação brotaram gotas de sangue e água (cf. Lc 22,44) que
cresceriam em rio na cruz do Calvário (cf. Jo 19,34). Assim fertilizado, o
Jardim foi reaberto a todo aquele que crê. Nele, “ouvir-se-ão gritos de
entusiasmo e de alegria, na ação de graças, ao som da música.” (Is 51,3c)
E
como disse Jesus, “meu Pai é o agricultor... meu Pai é o jardineiro...” (Jo
15,1)
Orai sem cessar: “Venha o meu Amado ao seu jardim...” (Ct 5,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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