Sua mão e seu santo braço... (Sl 98 [97])
Claro,
na Primeira Aliança, antes da encarnação do Filho, Deus não tinha um corpo.
Entretanto, são comuns na Bíblia as expressões de cunho antropomórfico
relacionadas a Yahweh. Seus olhos
tudo veem (Sl 139,16), seus pés se
apoiam no Templo (Is 60,13), seu ouvido
se inclina para o homem que reza (Sl 31,2), seu hálito afogou os egípcios no Mar Vermelho (Ex 15,10). O homem sente
necessidade de um Deus com quem possa relacionar-se, por isso lhe empresta
estes traços de humanidade.
Também
nos ícones do Oriente cristão, é comum que o iconógrafo “escreva” a mão de Deus
saindo da nuvem, em um cantinho da figura, para sugerir que Deus vai-se revelar,
Deus vai “entrar em ação”. Se Deus encolhe o braço, se seu braço é curto demais,
ele se mostraria impotente diante do mal.
Por
isso mesmo, quando canta a poderosa intervenção de Yahweh para libertar seu
povo da escravidão do Egito, ou a vitória de Israel sobre os povos vizinhos, a
Escritura Sagrada fala do braço divino: “O poder do vosso braço os petrificou”.
(Ex 15,16) Os braços de Moisés nada poderiam realizar se Deus encolhesse o
próprio braço...
O
homem dito moderno (sic!) prefere
usar seus próprios braços, manifestando inexplicável autoconfiança. Os heróis
que ele desenha aos olhos das crianças são donos de braços musculosos, como o Superman, Tarzan, He-Man e tantos
outros. Os cartazes de propaganda do III Reich nazista são notáveis nessa
figuração do super-homem. Com bíceps tão malhados nas academias, o homem não
precisa dos braços de Deus, dispensa as mãos divinas. Este superesforço para
conduzir seu próprio destino pode explicar boa parte das neuroses de nosso
tempo, bem como os desastres humanos causados pelo ateísmo dos sistemas
políticos que deixaram atrás de si um rastro de sangue e de ruína.
No
entanto, as mãos de Deus são poderosas: elas modelaram a argila do primeiro
homem (Gn 2,7), e ainda somos como barro nas mãos do mesmo oleiro (Jr 18,6). Em
sua insanidade e soberba, a criatura tenta libertar-se das mãos que o moldaram,
sem perceber que seu barro conserva as impressões digitais dos dedos de Deus.
O
povo fiel sabe que a força do braço de Deus pode fortalecer o homem. Assim como
a unção divina fez do pastor Davi o guia de seu povo, assim também a força de
Deus se manifestou na aparente fraqueza de Madre Teresa de Calcutá, de Dom
Bosco e de tantos outros servos cuja ação transformou o mundo.
E
nós? Estamos contando com o braço de Deus?
Orai sem cessar: “ O Senhor manifestou o poder de seu braço!” (Lc 1,51)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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