Quem pode perdoar pecados... (Lc 5,17-26)
Nós corremos sempre o risco de
valorizar as coisas visíveis e nem mesmo perceber a ação misteriosa de Deus em
nossas vidas. Assim, neste Evangelho, temos os dois planos da ação divina: o
exterior (devolver os movimentos a um paralítico) e o interior (perdoar os seus
pecados).
Em um primeiro momento, comovido
pela fé dos quatro amigos que, diligentemente, trouxeram o enfermo à sua
presença, Jesus lhe confere o perdão dos pecados. Claro que isto não se nota
“do lado de fora”, é um milagre íntimo da onipotente misericórdia de Deus. Os
escribas e fariseus ali presentes entendem as palavras de Jesus como autêntica
blasfêmia, pois “só Deus pode perdoar pecados”. Não podem crer na transformação
ocorrida naquele doente.
Logo, em tom de desafio, Jesus
ordena ao paralítico que se erga do catre e volte para casa, carregando a
enxerga. Isto, sim, podia ser visto e comprovado. E Jesus o fez como sinal de
que seu primeiro gesto também fora verdadeiro.
Deixando de lado a evidência de que
muitos males físicos têm como raiz algum tipo de pecado crônico, fixemos nosso
pensamento em um ponto de máxima atualidade. Nossa sociedade está paralisada
diante das crises e desafios do novo milênio. Violência e insegurança,
corrupção e depravação dos costumes, rebeldia e choque de gerações - de todos
esses males, brota na humanidade uma terrível sede de reconciliação. Vale a
pena recordar as palavras do saudoso Papa João Paulo II:
“O mesmo olhar indagador, se é
suficientemente perspicaz, captará no seio da divisão um desejo inconfundível,
da parte dos homens de boa vontade e dos verdadeiros cristãos, de recompor as
fraturas, de cicatrizar as lacerações e de instaurar, em todos os níveis, uma
unidade essencial. Este desejo comporta, em muitos casos, uma verdadeira
nostalgia de reconciliação, mesmo quando não é usada tal palavra.” (Reconciliação e Penitência, 3.)
A causa mais profunda
da doença existencial de nosso tempo, que se manifesta como stress e depressão, vazio e ausência de sentido, pode ser
identificada como um sentimento de culpa que rói a alma humana. Lá no fundo, o
homem sabe que se afastou do Pai, recusou sua voz, maculou sua imagem.
Como o pródigo do
Evangelho, o homem “sabe” que existe um lar à sua espera. E intui que a comida
dos porcos não alimentará seu espírito. Por isso mesmo, tem saudades de Deus.
Por que, então, não voltar à casa do Pai?
Orai sem cessar: “Volta, Israel, ao teu
Senhor!” (Os 14,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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