Se uma delas se perde... (Mt 18,12-14)
O pastor tem cem
ovelhas. Uma delas se extraviou do rebanho. Segundo informa o exegeta Joachim
Jeremias, o dono dessas ovelhas não é muito rico. Entre os beduínos, o tamanho
do rebanho oscila entre 20 e 200 cabeças de gado miúdo; com 300 cabeças, já se
tem no direito judaico por um rebanho descomunal.
Ora, o pastor da
parábola seria o proprietário de um rebanho de porte médio, que cuida
pessoalmente de suas ovelhas, pois não teria recursos para pagar a um
empregado. Fica realçada sua “relação pessoal” com o rebanho. No verão,
certamente passa as noites no campo e dorme no meio de suas ovelhas. Tem o
cheiro delas. Uma cena de intimidade.
Eis que uma das ovelhas
se desgarra. Perde-se no semiárido. Dizem os entendidos que a visão da ovelha é
muito fraca, e limitado é seu senso de orientação. Trata-se de animal muito
dependente. Não admira, pois, que o pastor “abandone” as 99 ovelhas bem
comportadas para sair campeando por vales e outeiros, até encontrar a fujona e,
cheio de júbilo, regressar ao redil.
Deixando de lado o
bucolismo da imagem e o pitoresco da cena, fixemo-nos no ponto essencial: este
pastor é figura do próprio Cristo, que deixa o “redil” do céu e desce à terra
para “campear” a nós, os pecadores, perdidos e extraviados da casa do Pai. Ele
não terá pousada nem descanso enquanto não nos recuperar.
Tal como na parábola
da moeda perdida, a reação emocional do dono que recupera o bem perdido parece
desproporcional: uma pobre moeda em dez, uma simples ovelha em cem – seria
motivo “justo” para tal efusão de alegria? Jesus não nos deixa qualquer dúvida
a esse respeito: “Esta é a vontade do Pai que está nos céus, que não se perca
nenhum (nem um!) desses pequeninos.”
Nosso mundo está cheio
de pequeninos: crianças sem lar, jovens famintos de Deus, populações inteiras à
margem da cultura e da fé. A história da Igreja registra uma notável multidão
de “pastores” que se dedicaram a recuperar ovelhas tresmalhadas, desde
Francisco Xavier e João Bosco, desde Dom Orione a Madre Teresa. Eles já
cumpriram sua tarefa.
Aceitaríamos nós a
missão de pastorear? Dedicaríamos nossa vida a salvar as ovelhas do Senhor?
Orai sem cessar: “Apascenta as minhas
ovelhas!” (Jo 21,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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