Por que choras? (Jo 20,1-2.11-18)
A figura de Maria de
Mágdala a chorar junto ao sepulcro de Jesus traz à nossa mente a imagem da
amada do Cântico dos Cânticos, que buscava insone pelo Amado: “Sobre meu
leito, ao longo da noite, procuro aquele que eu amo. Eu procuro, não o
encontro. Tenho de levantar-me, dar a volta pela cidade; nas ruas, nas praças,
procurar aquele que eu amo.” (Ct 3,1-2)
Só que, no caso de
Maria, já não há razões para chorar... Jesus ressuscitou! Mas ela está olhando
na direção errada: tem os olhos fixos no túmulo abandonado, enquanto o Mestre
amado está bem próximo, logo às suas costas. E quando Jesus lhe dirige a
palavra, Maria imagina falar com o jardineiro.
Até que Jesus a chama
pelo nome: “Mariâm”, em hebraico. E também em hebraico ela responde: “Rabbúni”,
uma forma afetiva de Rabi, indicando uma espécie de posse: meu Mestre...
Teria ela identificado, ao mesmo tempo, a voz inconfundível de Jesus e certa
entonação personalizada de seu próprio nome: “Ninguém me chama desse jeito, a
não ser Jesus!”
Feliz, bem-aventurada
Maria de Mágdala, outrora pasto dos demônios, hoje discípula predileta! Feliz
daquele que ouve o seu nome pronunciado amorosamente por Jesus! Feliz daquele
que chorava por Jesus e acabou consolado!
O movimento natural de
Maria é agarrar-se a Jesus, retê-lo junto a si, como posse pessoal. Gozar da
incomparável alegria de sua intimidade. Mas Jesus a surpreende com uma nova
missão, ainda nos albores de um novo amanhecer: “Vai ter com os meus irmãos...”
E ela parte para anunciar: “Eu vi o Senhor, e eis o que ele me disse”.
A mulher que chorava
sua perda pessoal é, agora, uma voz que testemunha a vitória de Cristo sobre a
morte. Ainda que o testemunho de uma mulher não convença de imediato os
discípulos medrosos e desanimados, Madalena é a imagem da nova mulher, remida e
projetada na estrada do Evangelho.
Como tenho vivido a
minha vida? Continuo chorando rios de lágrimas, fechado em minhas próprias
dores, quando o Senhor tem uma missão pessoal para mim?
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