quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Três tendas... (Mt 17,1-9)
           Enquanto escrevo esta reflexão, tenho diante dos olhos o ícone da Transfiguração. No alto da montanha inteiramente inundada pela Luz divina, revestido de inigualável alvura, envolvido por círculos concêntricos em matizes de azul, o Cristo Senhor.

            No dia-a-dia da planície, da oficina de Nazaré às esquinas de Cafarnaum, os homens viam apenas o “filho do carpinteiro”. Agora, não! Tendo a seu lado por testemunhas Moisés (a antiga Lei) e Elias (a profecia da Primeira Aliança), o que se pode ver é o próprio Filho de Deus. Nem precisaríamos da voz que desce da nuvem a identificá-lo – como já o fizera em seu batismo no Jordão: “Eis o meu Filho muito amado... Ouvi-o!”
            Na base do ícone, prostrados por terra, vencidos pelo temor (Mt 17,6) ou pelo sono (Lc 9,32), vejo Pedro, Tiago e João. Que será que eles temem? Por que preferem dormir?
            Certamente o sono será mais cômodo que ouvir a conversa entre Jesus, Moisés e Elias, pois falam exatamente sobre “a morte de Jesus” (cf. Lc 9,31). Ora, esta experiência de testemunhas oculares da glória do Tabor deveria servir-lhes de vacina para a próxima experiência da outra montanha: o Calvário. Mas eles dormem...
            No final, Pedro sugere que permaneçam lá no alto, onde armaria três tendas para os três personagens. E a palavra “tenda” não pode deixar de ser associada ao Prólogo do Evangelho de João (cf. Jo 1,14), onde lemos que o Verbo “fez sua tenda” [eskénosen], “acampou entre nós”.
            Menos mal que as tendas são a morada dos nômades, dos pastores que se deslocam permanentemente em busca do pasto para seus rebanhos. O próprio Paulo – fabricante de tendas! – nos lembraria que não temos, aqui na terra, morada permanente, mas habitamos apenas tendas provisórias (2Cor 5,1-2).
            Por tudo isso, a sugestão de Simão Pedro não foi acolhida. Após a glória do Tabor, é preciso descer ao encontro dos homens, atravessar a penumbra de suas cidades, anunciar a Boa Nova. E enquanto perdura esta missão, não teremos o luxo de descansar na montanha luminosa.
            Sem esquecer, todavia, que a boa notícia que temos a dar passa necessariamente pela cruz...

Orai sem cessar: “O Senhor é minha luz e minha salvação!” (Sl 27,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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