sexta-feira, 22 de agosto de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Eis a escrava do Senhor... (Lc 1,26-38)
            Senhora [domina], Guia [ducissa], Imperatriz [imperatrix] – eis alguns dos títulos que a piedade popular atribuiu à Mãe de Deus nestes vinte séculos de cristianismo. Desde que a figura de Cristo, Senhor do Universo, foi representada como um rei coroado – imagem emprestada dos regimes monárquicos deste mundo -, os fiéis não hesitaram em coroar também a Mãe do Senhor.

            O primeiro a chamar Maria de “rainha” terá sido o poeta e teólogo Santo Efrém, o Sírio [séc. IV]. Na Ladainha Lauretana, há uma série de invocações a Maria enquanto rainha: dos apóstolos, dos anjos, dos mártires etc. Embora não tenha fundamento bíblico, o título se justifica pelas palavras de Gabriel na Anunciação, quando afirma que o Filho de Maria ocupará o “trono de Davi, seu pai” (Lc 1,32). Entretanto, nenhum outro título engrandece mais a escolhida de Deus que a invocação conciliar como Mãe de Deus [Theotókos].
            Nos regimes monárquicos, enquanto os reis eram a imagem do poder, da força e do arbítrio, acumulando as funções de legislador, general e juiz, a imagem das rainhas representava a misericórdia: era a rainha quem intercedia pelos réus, suplicando a “graça”, isto é, a comutação da pena. A Rainha Ester da Bíblia encarna com perfeição esse “serviço da rainha”.
            Entretanto, a própria Maria de Nazaré não se vê como rainha, mas como humilde serva de Deus. Na verdade, apresenta-se como sua “escrava”. Quando Gabriel lhe apresenta a proposta de Deus, Maria dá a resposta: “Eis aqui a escrava do Senhor!” Algumas traduções optam por “serva”, mas não é o que está no texto latino de S. Jerônimo [ancilla Domini] nem no grego de São Lucas [doúle kyriou]. A palavra “serva” faz pensar em uma empregadinha doméstica, com avental e dragonas nos ombros, com carteira assinada e direitos trabalhistas. Ora, escrava é outra coisa!
            A resposta de Maria de Nazaré tem um sentido existencial que toca o profundo de seu ser. É como se Maria dissesse: “Se você acaba de me revelar qual é o desígnio de Deus a meu respeito, quem sou para ter vontade própria e escolher diferentemente? Deixo de lado qualquer projeto pessoal, pois Deus me diz o que fazer”.
            É desta forma que a Mãe de Deus nos aponta o caminho do Reino: se queremos “reinar” com Cristo, devemos começar por “servir”. Ela sabe que não há maior glória que servir a Deus...
Orai sem cessar: “Meu Deus, quero fazer o que te agrada!” (Sl 40,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.

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