Lançai-o fora! (Mt
22,1-14)
Para André Louf, Deus nos espanta
quando convida indiferentemente a crentes e descrentes, mas não chega a nos
chocar, de início, pois bem conhecemos sua desmedida bondade. E o biblista
cisterciense prossegue:
“Mas a continuação da parábola é
mais difícil. Eis que o salão das núpcias está agora repleto de convivas, e de
toda espécie. Entre eles, alguns que não tinham direito de ali estar. Alguns
trajam a veste nupcial, outros não. Ora, estes últimos são prontamente
expulsos, pés e mãos atados, e lançados às trevas. E Jesus comenta: ‘Muitos são
os chamados, mas os escolhidos são poucos’.
Que quer dizer Jesus? Por que esta
aparente dureza? E qual é esta veste de núpcias que é preciso vestir
absolutamente, sob pena de não encontrar graça diante de um Deus que sabemos
ser Amor e Misericordia?
Há uma resposta fácil, muitas vezes
ouvida, que consistiria em dizer que a ausência da veste é o sinal de uma
negligência, uma infidelidade. Para entrar no Reino, seria preciso estar limpo
e asseado. Mas a parábola não diz em nenhum lugar que o convidado expulso
estava em roupa de trabalho ou de blue-jeans.
E não é preciso ter as mãos limpas para entrar nesse Reino; aliás, Jesus diz
que os pecadores e as prostitutas nos precederão por lá.
Qual é, afinal, esta roupa de
casamento? São Paulo no-lo diz: é a roupa nova do homem novo, criado em Jesus
Cristo: ele é Jesus Cristo. É preciso que nos despojemos radicalmente do homem
velho e de suas pretensões, tal como de uma roupa usada, e nos revestir, como
uma roupa estalando de novo, do próprio Jesus Cristo, a humildade de sua cruz e
a força de sua ressurreição.
O Rei só tolera entre os convivas –
pouco importa que sejam bons ou maus – aqueles que apresentam os traços de seu
Filho. Aqueles que aceitam ser eleitos e bem-amados no único Eleito e o único
Bem-Amado: Jesus.
E quais são os traços de Jesus? São
Paulo os desenha para nós, em outra passagem: ‘Como eleitos de Deus e seus
bem-amados, revesti-vos de terna compaixão, de bondade, de humildade, de
doçura, de paciência; perdoai-vos mutuamente; o Senhor vos perdoou’.
O rosto de Jesus é a doce piedade, é
a misericórdia sem limites para com nossos irmãos. Eis a veste nupcial, a única
que Deus poderá reconhecer na hora do festim, se um dia experimentamos a doce
piedade de Deus, e se a pudemos espalhar à nossa volta, como humilde amor,
sobre nossos irmãos.”
Orai sem cessar: “Felizes os convidados para a ceia do
Cordeiro!” (Ap 19,9)
Texto e poema de Antônio Carlos
Santini, da Com. Católica Nova Aliança.
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