Neste Evangelho, estamos diante de
um “fracasso pastoral”: os discípulos de Jesus tentam, em vão, expulsar o
demônio que afligia um jovem. Ora, esse poder lhes fora dado e já experimentado
em ocasiões anteriores (cf. Lc 10,17). Desta vez, porém, fracassam. Jesus, no
entanto, que acabava de descer do Tabor, onde estivera em oração e jejum, na
intimidade do Pai, com uma simples ordem liberta o garoto de sua opressão.
Depois, em separado, os discípulos
vão perguntar a razão de sua impotência e recebem do Mestre a explicação: há
diferentes “castas” de maus espíritos; aquela, em questão, só se pode expulsar
com oração (e jejum, acrescentam certas traduções!). (Cf. Mc 9,29.)
Deixemos de lado os detalhes e
prendamo-nos ao essencial: precisamos estar preparados para a missão de cada
dia. Além da fé – essencial para os ministérios eclesiais, também o lado humano
da pessoa exige um mínimo de maturidade, preparação e treinamento. Minha avó
Xandoca dizia, quando um de nós tentava fazer algo que não lhe cabia: “Não se
meta a rabequista!” De fato, a rabeca, se tocada por um músico principiante, só
emite rangidos fanhosos. Também o povo tem seu refrão: “Quem não pode com a
mandinga, não carrega patuá.” Ou seja, não dê passos mais largos que suas
pernas...
No que nos diz respeito, temos visto
muita imprudência quando se confia (e se assume!) uma tarefa pastoral a fiéis
despreparados para o serviço. Pessoas recém-convertidas, cuja conversão ainda
não foi devidamente testada, podem promover estragos na comunidade. Não raro,
são os próprios párocos, ansiosos por atenderem a uma necessidade da paróquia,
que nomeiam auxiliares sem preparo para a função. O mesmo acontece nos
casamentos precoces, com jovens imaturos praticamente forçados a se casarem por
circunstância como uma gravidez indesejada. Neste ponto, teríamos o que
aprender com as empresas, que não confiam um equipamento ao funcionário sem,
antes, treina-lo para aquela função específica.
Voltando ao núcleo do Evangelho,
reconheçamos que somos incapazes. Nada podemos por nós mesmos. Sem vida
espiritual intensa, o que inclui oração, comunhão e confissão frequentes,
intimidade com a Palavra de Deus e inserção na comunidade, acabaremos todos
como os discípulos de Jesus: daremos com os burros n’água...
Orai sem
cessar: “O Senhor
dará força a seu povo!” (Sl 29,11)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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