Não fez ali muitos
milagres... (Mt
13,54-58)
Um Evangelho que devia espantar o
leitor! A começar do fato de que o evangelista tenha registrado um “fracasso”
de Jesus. Os biógrafos de um herói, de um grande vulto da História, tratam de
dar ênfase às realizações e conquistas do personagem escolhido. Por outro lado,
ocultam bem suas falhas ou, no mínimo, tratam de “dourar a pílula” para não lhe
estragar a imagem.
Aqui, não. São Mateus declara, com
todas as letras, que Jesus não pôde fazer muitos prodígios em sua terra natal.
Em outras terras, ele limpara o leproso, expulsara demônios, acalmara a
tempestade. Em Nazaré, veem nele apenas o “filho do carpinteiro”. A
objetividade racionalista de seus conterrâneos ata as mãos do Senhor.
Temos aqui uma lição. Deus, que é
onipotente, não costuma invadir nossas vidas com demonstrações gratuitas de
poder. Ele conta com nossa cooperação. Ele aguarda de nossa parte algum tipo de
abertura para sua intervenção. Tanto que, antes de realizar certas curas, Jesus
perguntava ao cego, ou ao surdo ou ao paralítico: “Que queres que eu te faça?”
Aos dois cegos, ele pergunta: “Credes que eu posso fazer isto?” (Mt 9,28) E
antes de ressuscitar a filha de Jairo, diz ao Pai: “Não temas, crê somente.”
(Lc 8,50)
Quando lemos a vida dos santos, dos
fundadores de Institutos religiosos, dos missionários, assombra-nos a
imprudente ousadia de todos eles quando se lançam a empresas humanamente
utópicas, sem contar com recursos materiais nem apoio humano, mas tão somente
com a certeza de que a obra era de Deus e, por isso mesmo, sua Graça não lhes
faltaria jamais.
E mais: com raríssimas exceções, as
iniciativas desses homens de Deus enfrentaram todo tipo de obstáculo e
oposição: ciúmes, calúnias, denúncias, campanhas de difamação, traições
internas. E lá vão esses maravilhosos servos de Deus, sempre adiante, enquanto
o Senhor faz em suas vidas os milagres que ainda não faz nas nossas... Também
nós recebemos de Deus tarefas e missões que jamais conseguiremos realizar se
contamos apenas com nossas próprias forças. Construir uma família, educar os
filhos no bem, atuar para a transformação da sociedade...
E Jesus, desejoso de fazer o
impossível em nossa vida, vem perguntar: “Você crê que eu posso fazer isso?”
Orai sem
cessar: “Tudo é possível ao que crê!” (Mc 9,23)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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