sexta-feira, 12 de setembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

Então, enxergarás direito... (Lc 6,39-42)
           É bem humana a nossa inclinação a apontar os erros dos outros. Certamente, ao realçar os pecados de nossos irmãos, lançamos uma cortina de fumaça sobre nossos próprios pecados. É como se os erros de terceiros viessem a nos consolar de nossas próprias falhas.
            Até nossos filhos, quando repreendidos por seu comportamento impróprio (atitudes grosseiras, palavrões, roupas ousadas, pequenas trapaças, colar nas provas...), tentam defender-se com o velho argumento: “todo mundo faz!”
            Curiosamente, estamos sempre dispostos a estender um dedo acusador contra dirigentes corruptos e deputados que legislam em causa própria. Se, no entanto, examinarmos nossa vida pessoal, veremos que também estamos sempre dispostos a levar pequenas vantagens. Coisas banais, como “furar” a fila, regatear nas compras, gastar fosfatos para reduzir nossos impostos e – não podia faltar! – valer-nos de um “caixa 2”...
            Um fabulista antigo comentava que, quando entramos neste mundo, Júpiter, o deus supremo do panteão greco-romano, pendura em nós duas mochilas: em nossas costas, uma pequena mochila, com nossos vícios pessoais; em nosso peito, uma outra bem grande, com os vícios dos outros. Daí, nossa facilidade em perceber e acusar os pecados alheios, fazendo vista grossa para os nossos...
            Neste Evangelho, Jesus contrasta o pequeno (o cisco) e o grande (a trave de madeira). Apesar da enorme trave em nossos olhos, insistimos em denunciar o minúsculo cisco que atrapalha a visão do próximo. A sugestão do Mestre é que iniciemos um processo de conversão, fazendo penitência por nossas “traves”, purificando nosso olhar. Depois – quem sabe? – teríamos condição de ajudar os irmãos a enxergarem melhor.
            Enquanto não aceitamos essa proposta, mereceremos de Jesus o rótulo de “hipócritas”: aqueles que usam máscaras, como os atores do teatro grego, simulando por fora sentimentos que, de fato, não existem em nosso íntimo. Como diriam nossos sábios avós, “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”...
            Que pena! A caridade não combina com críticas e acusações...
Orai sem cessar: Diante de ti, Senhor, pões nossas culpas,
                                E nossos pecados ocultos à luz do teu rosto.” (Sl 90,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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