É bem humana
a nossa inclinação a apontar os erros dos outros. Certamente, ao realçar os
pecados de nossos irmãos, lançamos uma cortina de fumaça sobre nossos próprios
pecados. É como se os erros de terceiros viessem a nos consolar de nossas
próprias falhas.
Até nossos
filhos, quando repreendidos por seu comportamento impróprio (atitudes
grosseiras, palavrões, roupas ousadas, pequenas trapaças, colar nas provas...),
tentam defender-se com o velho argumento: “todo mundo faz!”
Curiosamente,
estamos sempre dispostos a estender um dedo acusador contra dirigentes
corruptos e deputados que legislam em causa própria. Se, no entanto,
examinarmos nossa vida pessoal, veremos que também estamos sempre dispostos a
levar pequenas vantagens. Coisas banais, como “furar” a fila, regatear nas compras,
gastar fosfatos para reduzir nossos impostos e – não podia faltar! – valer-nos
de um “caixa 2”...
Um fabulista
antigo comentava que, quando entramos neste mundo, Júpiter, o deus supremo do
panteão greco-romano, pendura em nós duas mochilas: em nossas costas, uma
pequena mochila, com nossos vícios pessoais; em nosso peito, uma outra bem
grande, com os vícios dos outros. Daí, nossa facilidade em perceber e acusar os
pecados alheios, fazendo vista grossa para os nossos...
Neste
Evangelho, Jesus contrasta o pequeno (o cisco) e o grande (a trave de madeira).
Apesar da enorme trave em nossos olhos, insistimos em denunciar o minúsculo
cisco que atrapalha a visão do próximo. A sugestão do Mestre é que iniciemos um
processo de conversão, fazendo penitência por nossas “traves”, purificando
nosso olhar. Depois – quem sabe? – teríamos condição de ajudar os irmãos a
enxergarem melhor.
Enquanto não
aceitamos essa proposta, mereceremos de Jesus o rótulo de “hipócritas”: aqueles
que usam máscaras, como os atores do teatro grego, simulando por fora
sentimentos que, de fato, não existem em nosso íntimo. Como diriam nossos
sábios avós, “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”...
Que pena! A
caridade não combina com críticas e acusações...
Orai sem cessar: Diante de ti, Senhor, pões nossas
culpas,
E nossos pecados ocultos à luz do teu
rosto.” (Sl 90,8)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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