terça-feira, 30 de setembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Fogo do céu... (Lc 9,51-56)
            A memória religiosa dos hebreus registra alguns exemplos não muito edificantes. O “zelo furioso” do profeta Elias é um desses casos. Seu remédio para a idolatria dos adoradores de Baal foi passar a fio de espada 450 profetas daquela divindade cananéia (cf. 1Rs 19). Para acabar com o pecado, acaba-se com o pecador...

            Nada mais estranho aos projetos de Deus, que “não se compraz com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida” (cf. Ez 33,11). É difícil separar o zelo pela ortodoxia de algum impulso de odiosa intolerância.
            O episódio do Evangelho de hoje deve ser situado no contexto da secular inimizade entre judeus e samaritanos, existente desde o repovoamento da Palestina no Séc. VIII a.C. Os samaritanos eram mal vistos por seu sincretismo religioso e práticas supersticiosas, além de “competirem” com o culto de Jerusalém, construindo um Templo rival no Monte Garizim.
Natural que também reagissem com sentimentos similares. Há o registro histórico de uma incursão de samaritanos em Jerusalém, na véspera da Páscoa, para jogar a carcaça de um cachorro sobre os muros do Templo, tornando o local ritualmente impuro e impedindo a celebração pascal.
            Assim, quando perceberam que Jesus e seu grupo iam para Jerusalém, os aldeões de Samaria lhes recusaram pousada. Inflamados, dois discípulos se oferecem a Jesus para invocarem o fogo do céu sobre os “inimigos”. O Mestre não só os repreendeu mas, daquela dia em diante, com boa dose de humor, passou a chamar Tiago e João de “Boanerges”, isto é, “filhos do trovão” (cf. Mc 3,17).
            Ainda hoje, com todo o nosso (pós)modernismo, temos discípulos de Elias, Boanerges do 3º milênio. Falo de cristãos que se sentem em permanente combate contra outras Igrejas ou denominações religiosas. Assumindo uma reação de defesa, sofrem ao terem notícia do crescimento de outros grupos e mostram-se avessos a todo tipo de diálogo e convivência. Claro que não seria esta a atitude de Jesus, se vivesse hoje entre nós...
            Ah! O fogo do amor seria bem mais apropriado que o fogo do céu!

Orai sem cessar: “Que todos sejam um, Pai, como estás em mim e eu em ti...”
                                                                                                                      (Jo 17,21)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Nova Aliança.

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