sábado, 6 de setembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Iam colhendo as espigas... (Lc 6,1-5)

           Era sábado. O dia da parada. O dia em que o próprio Senhor Yahweh havia descansado. No shabbat, o trabalho era interdito. O infrator estava sujeito à pena da lapidação. Estando em viagem, Jesus e seus discípulos passam por um trigal e debulham espigas maduras, comendo os grãos de trigo. Sua atitude é apontada pelos fariseus como infração da Lei mosaica.
            De fato, não era bem assim. A própria Lei previa que os viajantes pudessem matar a fome com o que encontrassem pelo caminho (cf. Dt 23,26 - TEB), tal como a Igreja sempre dispensou do jejum obrigatório quem estivesse em viagem. Curiosamente, mesmo a Lei antiga manifestava misericórdia com o estrangeiro, os mendigos e os andarilhos que perambulavam pelos campos. Desde os tempos antigos, aos olhos de Deus, a ascese e o sacrifício deviam ceder lugar à misericórdia.
            Assim, Jesus poderia ter refutado a acusação dos fariseus citando a Lei. Mas ele vê naquela situação a oportunidade de lhes dar uma lição mais importante: O Filho do Homem (que é o próprio Jesus) é Senhor também do Sábado. Ele – Verbo, Palavra de Deus – é o próprio autor da Lei. Tem, pois, o poder de modificá-la e dela dispensar, superando-a pelo amor, pela defesa da vida.
            Os formalistas não gostam disso. Eles querem tudo no papel, muito bem explicadinho, com todas as vírgulas, com os pingos nos iii... e também nos jjj...
Querem saber até onde podem ir sem pecar. Querem saber quanto podem contabilizar em boas obras para depois apresentar a Deus uma fatura e cobrar!!!
            Os formalistas querem um código de leis bem detalhado, com todos os artigos e alíneas. Querem saber quantas chicotadas podem dar nos infratores e já carregam no bolso as pedras para lapidar as adúlteras. Se Jesus resolver perdoar uma delas e dar-lhe a oportunidade de recomeçar, certamente ficarão furiosos com tanta libertinagem...
            Os apaixonados, ao contrário, não têm muito tempo para estudar a Lei. Movidos pelo amor, atropelam os 613 preceitos dos fariseus e ousam salvar o jumento que caiu no poço em pleno sábado! Ignoram o fato de que o bebê nasceu de um estupro e o acolhem com um amor sem medidas. Desconsideram a inutilidade de uma velhinha e insistem em cuidar dela.
Ousados, esses apaixonados!!!
Orai sem cessar: Eu quero a misericórdia, e não o sacrifício... (Os 6,6)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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