Iam colhendo as espigas... (Lc 6,1-5)
Era sábado.
O dia da parada. O dia em que o próprio Senhor Yahweh havia descansado. No shabbat,
o trabalho era interdito. O infrator estava sujeito à pena da lapidação.
Estando em viagem, Jesus e seus discípulos passam por um trigal e debulham
espigas maduras, comendo os grãos de trigo. Sua atitude é apontada pelos
fariseus como infração da Lei mosaica.
De fato, não
era bem assim. A própria Lei previa que os viajantes pudessem matar a fome com
o que encontrassem pelo caminho (cf. Dt 23,26 - TEB), tal como a Igreja sempre
dispensou do jejum obrigatório quem estivesse em viagem. Curiosamente, mesmo a
Lei antiga manifestava misericórdia com o estrangeiro, os mendigos e os
andarilhos que perambulavam pelos campos. Desde os tempos antigos, aos olhos de
Deus, a ascese e o sacrifício deviam ceder lugar à misericórdia.
Assim, Jesus
poderia ter refutado a acusação dos fariseus citando a Lei. Mas ele vê naquela
situação a oportunidade de lhes dar uma lição mais importante: O Filho do Homem
(que é o próprio Jesus) é Senhor também do Sábado. Ele – Verbo, Palavra de Deus
– é o próprio autor da Lei. Tem, pois, o poder de modificá-la e dela dispensar,
superando-a pelo amor, pela defesa da vida.
Os
formalistas não gostam disso. Eles querem tudo no papel, muito bem explicadinho,
com todas as vírgulas, com os pingos nos iii... e também nos jjj...
Querem
saber até onde podem ir sem pecar. Querem saber quanto podem contabilizar em
boas obras para depois apresentar a Deus uma fatura e cobrar!!!
Os
formalistas querem um código de leis bem detalhado, com todos os artigos e
alíneas. Querem saber quantas chicotadas podem dar nos infratores e já carregam
no bolso as pedras para lapidar as adúlteras. Se Jesus resolver perdoar uma
delas e dar-lhe a oportunidade de recomeçar, certamente ficarão furiosos com
tanta libertinagem...
Os
apaixonados, ao contrário, não têm muito tempo para estudar a Lei. Movidos pelo
amor, atropelam os 613 preceitos dos fariseus e ousam salvar o jumento que caiu
no poço em pleno sábado! Ignoram o fato de que o bebê nasceu de um estupro e o
acolhem com um amor sem medidas. Desconsideram a inutilidade de uma velhinha e
insistem em cuidar dela.
Ousados, esses apaixonados!!!
Orai sem cessar: Eu quero a misericórdia, e não o
sacrifício... (Os 6,6)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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