sábado, 11 de outubro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Bem-aventurada! (Lc 11,27-28)

            Apenas dois versículos, mas costumam incomodar quando mal interpretados... Do meio do povo, uma mulher emocionada além da conta deixa escapar um grito: “Bem-aventurada aquela que te trouxe no seio e te amamentou!”

            Ouvindo a pregação de Jesus, seduzida por sua voz amorosa, tocada pelo fogo das palavras do Mestre, aquela mulher do povo deve ter pensado: “Que homem! Eu quisera ter um filho assim!” O próximo passo foi refletir? “Mulher feliz aquela que o trouxe ao mundo!” E, logo, se perguntar: “Quem seria a sua mãe?” Não espanta, pois, que se descontrolasse a gritar, sem qualquer pudor perante a multidão: “Bem-aventurada!”
            A resposta de Jesus surpreende o leitor desavisado: “Bem-aventurados antes os que ouvem a palavra de Deus e a observam!” Muitos entenderam (mal!) que Jesus desmerecia a pessoa de Maria, sua Mãe, aquela que o gestara e amamentara. Na verdade, Jesus está reorientando o olhar e a compreensão de seus ouvintes para o fato de que, acima da maternidade biológica de Maria, o que realmente a fez “feliz” (bem-aventurada) foi sua atitude de acolhida do Verbo (=Palavra), a ponto de gerá-lo em sua natureza humana.
            Outra coisa não ensina o Concílio Vaticano II: “Esta união entre Mãe e Filho na obra da salvação manifesta-se desde o tempo da virginal concepção de Cristo até sua morte”. (LG, 57.) “No decurso da pregação de seu Filho, ela recebeu as palavras pelas quais, exaltando o Reino acima de raças e vínculos de carne e sangue, Ele proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a palavra de Deus, tal como ela mesma fielmente o fazia”. (LG, 58.)
            Assim, nem de longe Jesus pretende rejeitar o elogio que a mulher do povo dirige à sua Mãe. Afinal, “todas as gerações a proclamariam bem-aventurada” (cf. Lc 1,48), e a mulher anônima simplesmente cumpre aquela profecia. O bom Filho apenas aponta para as motivações mais profundas da “felicidade” de sua Mãe.
            Além do mais, um olhar atento verá que Maria cumpre todas as bem-aventuranças de Mateus 5: foi pobre e chorou, foi mansa e sedenta de justiça, misericordiosa e pura, pacífica e perseguida. E ainda se acha, hoje, quem a injurie por causa de seu Filho... Precisa mais?

Orai sem cessar: “Felizes os que habitam em tua casa, Senhor!” (Sl 84,5)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário