Bem-aventurada! (Lc 11,27-28)
Apenas dois versículos, mas costumam
incomodar quando mal interpretados... Do meio do povo, uma mulher emocionada
além da conta deixa escapar um grito: “Bem-aventurada aquela que te trouxe no
seio e te amamentou!”
Ouvindo a pregação de Jesus,
seduzida por sua voz amorosa, tocada pelo fogo das palavras do Mestre, aquela
mulher do povo deve ter pensado: “Que homem! Eu quisera ter um filho assim!” O
próximo passo foi refletir? “Mulher feliz aquela que o trouxe ao mundo!” E,
logo, se perguntar: “Quem seria a sua mãe?” Não espanta, pois, que se
descontrolasse a gritar, sem qualquer pudor perante a multidão:
“Bem-aventurada!”
A resposta de Jesus surpreende o
leitor desavisado: “Bem-aventurados antes os que ouvem a palavra de Deus e a
observam!” Muitos entenderam (mal!) que Jesus desmerecia a pessoa de Maria, sua
Mãe, aquela que o gestara e amamentara. Na verdade, Jesus está reorientando o
olhar e a compreensão de seus ouvintes para o fato de que, acima da maternidade
biológica de Maria, o que realmente a fez “feliz” (bem-aventurada) foi sua
atitude de acolhida do Verbo (=Palavra), a ponto de gerá-lo em sua natureza
humana.
Outra coisa não ensina o Concílio
Vaticano II: “Esta união entre Mãe e Filho na obra da salvação manifesta-se
desde o tempo da virginal concepção de Cristo até sua morte”. (LG, 57.)
“No decurso da pregação de seu Filho, ela recebeu as palavras pelas quais,
exaltando o Reino acima de raças e vínculos de carne e sangue, Ele proclamou
bem-aventurados os que ouvem e guardam a palavra de Deus, tal como ela mesma
fielmente o fazia”. (LG, 58.)
Assim, nem de longe Jesus pretende
rejeitar o elogio que a mulher do povo dirige à sua Mãe. Afinal, “todas as
gerações a proclamariam bem-aventurada” (cf. Lc 1,48), e a mulher anônima
simplesmente cumpre aquela profecia. O bom Filho apenas aponta para as
motivações mais profundas da “felicidade” de sua Mãe.
Além do mais, um olhar atento verá
que Maria cumpre todas as bem-aventuranças de Mateus 5: foi pobre e chorou, foi
mansa e sedenta de justiça, misericordiosa e pura, pacífica e perseguida. E
ainda se acha, hoje, quem a injurie por causa de seu Filho... Precisa mais?
Orai sem
cessar: “Felizes
os que habitam em tua casa, Senhor!” (Sl 84,5)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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