A Torah – a Lei do Sinai – fora dada a Israel para iluminar o seu
caminho. No entanto, os doutores da Lei a transformaram em um fardo impossível
de suportar, sobrecarregando o povo com uma enxurrada de preceitos que
envolviam toda a vida social e familiar. Por isso a recriminação de Jesus
contra os “doutores” que tornaram impenetrável o Reino de Deus.
Como comenta Romano Guardini,
“proclamada em sua substância no Sinai, a Lei foi amplificada no decorrer do
tempo, levando em conta mudanças históricas e necessidades sociais. Acabou por
enquadrar completamente a vida do povo. Ela regulava as relações dos homens
entre si, da autoridade e do povo, dos grupos entre si, de um membro da família
com outro, dos cidadãos com os estrangeiros. Regrava os diferentes aspectos da
vida pública: propriedade, direito civil e criminal etc.”
“Regulava também as relações com
Deus: o serviço do Templo, dias sagrados, festas e calendário. Tudo era regrado
em detalhes, minuciosamente. Nisto se manifestava uma profunda concepção das
coisas, uma grande sabedoria, um judicioso conhecimento da psicologia humana,
tanto individual quanto familiar e social.”
O sistema de preceitos e normas
tornou-se tão complexo, que exigiu o nascimento da nova profissão: o doutor da
lei. Sua atuação transformou a Lei de Deus em rede que sufocava toda a vida do
povo. Ajunte-se a isso a hipocrisia decorrente da tentativa de simular uma
fidelidade à Lei impossível de viver.
“No exterior – comenta Guardini –
havia um impecável conformismo; no interior, o endurecimento do coração. Por
fora, a fidelidade material à Lei; por dentro, o pecado, mas o pecado que não
se reconhecia, pecado do qual não se arrependia e para o qual não se desejava a
redenção.
Jesus manteve distância dessa
mentalidade que o acusava continuamente – a ele, o livre Filho de Deus – de
pecar contra a Lei, desobedecer a seus mandamentos, quebrar as tradições,
profanar o Templo, trair o povo, impedir o cumprimento da Promessa.”
Não admira que a mensagem de Jesus –
fundamentada em uma obediência livre e amorosa ao Pai – fosse rejeitada pelos
religiosos de seu tempo. O sagrado passara a ser instrumento de pecado.
Em tempos de Nova Aliança, evitemos
repetir o erro da Antiga...
Orai sem
cessar: “A lei de
seu Deus está no coração do justo...” (Sl 37,31)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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