quinta-feira, 16 de outubro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 A chave da ciência... (Lc 11,47-54)
           A Torah – a Lei do Sinai – fora dada a Israel para iluminar o seu caminho. No entanto, os doutores da Lei a transformaram em um fardo impossível de suportar, sobrecarregando o povo com uma enxurrada de preceitos que envolviam toda a vida social e familiar. Por isso a recriminação de Jesus contra os “doutores” que tornaram impenetrável o Reino de Deus.

            Como comenta Romano Guardini, “proclamada em sua substância no Sinai, a Lei foi amplificada no decorrer do tempo, levando em conta mudanças históricas e necessidades sociais. Acabou por enquadrar completamente a vida do povo. Ela regulava as relações dos homens entre si, da autoridade e do povo, dos grupos entre si, de um membro da família com outro, dos cidadãos com os estrangeiros. Regrava os diferentes aspectos da vida pública: propriedade, direito civil e criminal etc.”
            “Regulava também as relações com Deus: o serviço do Templo, dias sagrados, festas e calendário. Tudo era regrado em detalhes, minuciosamente. Nisto se manifestava uma profunda concepção das coisas, uma grande sabedoria, um judicioso conhecimento da psicologia humana, tanto individual quanto familiar e social.”
            O sistema de preceitos e normas tornou-se tão complexo, que exigiu o nascimento da nova profissão: o doutor da lei. Sua atuação transformou a Lei de Deus em rede que sufocava toda a vida do povo. Ajunte-se a isso a hipocrisia decorrente da tentativa de simular uma fidelidade à Lei impossível de viver.
            “No exterior – comenta Guardini – havia um impecável conformismo; no interior, o endurecimento do coração. Por fora, a fidelidade material à Lei; por dentro, o pecado, mas o pecado que não se reconhecia, pecado do qual não se arrependia e para o qual não se desejava a redenção.
            Jesus manteve distância dessa mentalidade que o acusava continuamente – a ele, o livre Filho de Deus – de pecar contra a Lei, desobedecer a seus mandamentos, quebrar as tradições, profanar o Templo, trair o povo, impedir o cumprimento da Promessa.”
            Não admira que a mensagem de Jesus – fundamentada em uma obediência livre e amorosa ao Pai – fosse rejeitada pelos religiosos de seu tempo. O sagrado passara a ser instrumento de pecado.
            Em tempos de Nova Aliança, evitemos repetir o erro da Antiga...
Orai sem cessar: “A lei de seu Deus está no coração do justo...” (Sl 37,31)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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