quarta-feira, 12 de novembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Era um samaritano... (Lc 17,11-19)
                Exatamente no Evangelho de São Lucas – que escreveu para um público de cristãos provenientes do paganismo – a figura do estrangeiro sempre merece o maior destaque. Em contraste com a dureza de coração do Povo Escolhido, sobram elogios de Jesus para a fé cega do centurião romano (Lc 7,9), a gratidão do leproso samaritano(Lc 17,18) e o ato de fé do outro oficial romano aos pés da cruz (Lc 23,47), ao lado da confiança inabalável da siro-fenícia (Mt 15,28). E Jesus não contém sua admiração: “Não vi fé igual em Israel.” Ou seja, era de esperar que no meio do Povo da Aliança a manifestação de fé fosse maior, mais fácil, mais visível. Mas não era...
                Desta vez, temos dez leprosos: nove judeus e um samaritano. Aos olhos dos judeus, o samaritano era inimigo, herético, idólatra, bastardo, impuro (cf. Eclo 50,27-28). Os dois grupos eram simplesmente incomunicáveis (cf. Jo 4,9). Naturalmente, a desgraça comum – a lepra que os atingira – tinha colocado os dez no mesmo nível, superadas as divergências religiosas e sociais. Daí estarem juntos naquelas fronteiras entre Judeia e Samaria.
Assim, todos os dez clamam à passagem de Jesus, pedindo cura e compaixão. Jesus prontamente os remete aos sacerdotes do Templo, que tinham o encargo de examinar o ex-leproso e dar-lhe um atestado de saúde (cf. Lv cap. 12 e 13). Obedecendo a esta ordem – o que supõe um ato de fé -, eles se põem a caminho para Jerusalém. Ainda na estrada, os dez se veem curados. Enquanto os nove judeus seguem adiante, em busca do tão desejado atestado de saúde, o estrangeiro (o samaritano) volta-se para Jesus com a intenção de dar graças pela cura recebida.
                O Evangelho não chega a dizer que os nove judeus são mal-agradecidos. Mas é claro que, para eles, a declaração de pureza sanitária vinha em primeiro lugar. Também em nossa vida, nós corremos o risco de deixar a ação de graças em último plano, enquanto procuramos sempre a Deus em busca de vantagens pessoais: paz interior, cura física, progresso material, sucesso no vestibular, melhores salários...
                Ora, o Senhor tem coisas melhores para nos dar, a começar por seu próprio Espírito, que nos convence da filiação divina e nos leva a chamar a Deus de Pai. Deus tem para nós dons de eternidade, que não passam com tempo, não acabam roídos pela inflação nem corroídos pelo tempo.
                Que vale mais para nós? A gratidão ou o atestado de saúde?

Orai sem cessar: “Fora de vós, Senhor, não há felicidade para mim!” (Sl 16,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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