domingo, 2 de novembro de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Verás a glória de Deus... (Jo 11,32-45)

                Assim que Jesus chegou a Betânia, Marta fizera um ato de fé: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não morreria. Mesmo assim, eu sei que tudo o que pedires a Deus, ele te concederá”. (Jo 11,21-22)
                Agora, quando Jesus manda rolar a pedra que selava o túmulo, já no quarto dia da morte de Lázaro, Marta o adverte para o mau cheiro da decomposição. E Jesus insiste: “Eu não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”
                Esta severa advertência de Jesus permanece viva e válida para nossos dias. Em progressivo clima de materialismo pagão, muitos cristãos veem a morte como um beco sem saída, a etapa final da existência além da qual já não há mais nada a esperar: “morreu, acabou”...
                No dia em que a liturgia da Igreja Católica celebra a memória dos fiéis defuntos, nossa visão não pode ficar limitada aos muros do cemitério. Não é a morte que estamos celebrando, mas a vida eterna que se projeta além das muralhas de nosso tempo na história. Um dos Prefácios para a missa de Finados afirma categoricamente: “Vita mutatur, non tollitur” [a vida não é tirada, mas transformada].
                Comentando este Evangelho de João, Dom Claude Rault, Bispo do Saara argelino, observa: “Lázaro sai, envolto em faixas como um recém-nascido. Não se trata, pois, de um novo nascimento? Ele é arrancado do seio da terra como uma criança expulsa das entranhas da mãe. Ele é verdadeiramente levado, pés e mãos atados, tomado por essa palavra de autoridade que o arranca do túmulo. As forças da vida – vida mais forte que a morte – o lançaram para fora”.
                Ainda cremos? Nossa fé se resume a um conjunto de normas éticas, a um tratado de moral social? Ou ainda somos capazes de apostar na Palavra do Evangelho que aponta para a eternidade em Deus, de modo a relativizar todos os valores deste mundo, sem excluir a própria vida na carne?
                Ameaçado por seus inimigos, o jornalista guatemalteco José Calderón Salazar escreve: “Estou ameaçado de morte corporal. Quem não está ‘ameaçado de morte’? Todos nós estamos, desde nosso nascimento, pois nascer já é morrer um pouco. Estou ameaçado de morte. Aqui há um profundo erro: nem eu nem ninguém estamos ameaçados de morte. Estamos ameaçados de vida, ameaçados de esperança, ameaçados de amor. Estamos ameaçados de ressurreição!”
Orai sem cessar: “Senhor, tornarás a dar-me vida!” (Sl 71,20)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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