Verás a glória de Deus... (Jo 11,32-45)
Assim que Jesus
chegou a Betânia, Marta fizera um ato de fé: “Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não morreria. Mesmo assim, eu sei que tudo o que pedires a Deus, ele
te concederá”. (Jo 11,21-22)
Agora, quando
Jesus manda rolar a pedra que selava o túmulo, já no quarto dia da morte de
Lázaro, Marta o adverte para o mau cheiro da decomposição. E Jesus insiste: “Eu
não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”
Esta severa advertência
de Jesus permanece viva e válida para nossos dias. Em progressivo clima de
materialismo pagão, muitos cristãos veem a morte como um beco sem saída, a
etapa final da existência além da qual já não há mais nada a esperar: “morreu,
acabou”...
No dia em que a
liturgia da Igreja Católica celebra a memória dos fiéis defuntos, nossa visão
não pode ficar limitada aos muros do cemitério. Não é a morte que estamos
celebrando, mas a vida eterna que se projeta além das muralhas de nosso tempo
na história. Um dos Prefácios para a missa de Finados afirma categoricamente: “Vita mutatur, non tollitur” [a vida não
é tirada, mas transformada].
Comentando este
Evangelho de João, Dom Claude Rault, Bispo do Saara argelino, observa: “Lázaro
sai, envolto em faixas como um recém-nascido. Não se trata, pois, de um novo
nascimento? Ele é arrancado do seio da terra como uma criança expulsa das
entranhas da mãe. Ele é verdadeiramente levado, pés e mãos atados, tomado por
essa palavra de autoridade que o arranca do túmulo. As forças da vida – vida
mais forte que a morte – o lançaram para fora”.
Ainda cremos?
Nossa fé se resume a um conjunto de normas éticas, a um tratado de moral
social? Ou ainda somos capazes de apostar na Palavra do Evangelho que aponta
para a eternidade em Deus, de modo a relativizar todos os valores deste mundo,
sem excluir a própria vida na carne?
Ameaçado por seus
inimigos, o jornalista guatemalteco José Calderón Salazar escreve: “Estou
ameaçado de morte corporal. Quem não está ‘ameaçado de morte’? Todos nós
estamos, desde nosso nascimento, pois nascer já é morrer um pouco. Estou
ameaçado de morte. Aqui há um profundo erro: nem eu nem ninguém estamos
ameaçados de morte. Estamos ameaçados de vida, ameaçados de esperança,
ameaçados de amor. Estamos ameaçados de ressurreição!”
Orai sem cessar: “Senhor,
tornarás a dar-me vida!” (Sl
71,20)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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